quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Oo crime

Escorreu os pedaços da culpa pelo ralo.
Abasteceu-se de sangue saciado.
Mas no fim?… Soluço.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

E de recomeços

Talvez porque o dia tenha se amanhecido estranho ou porque ele não se continha mais nas suas grandes expectativas, não havia mais uma possibilidade de equilíbrio, não havia mais a chance de conciliação entre o que lhe ocorrera durante a noite e o que se passara por toda sua vida até então. E nessas manhãs que sem mais nem menos se acorda mudado, não há choro que cure, não há desespero suficiente. Tem que mesmo assim levantar-se, tomar o leite e sair ao trabalho. É preciso ter o trabalho. Pois depois de um tempo grande qualquer, o que se faz é continuar em um movimento que não tem mais força para cessar. Não depende mais se se é um novo homem. E continuar deitado é o único modo de se render. Há que se provar a coragem.
E de recomeços, o que lhe resta é recomeçar o que já acabado. O que lhe resta é incorrer no mesmo erro. E de recomeços, o que lhe resta é morrer tentando.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Urgência absoluta

Não se preocupe tanto, não se desgaste por mim...
Eu sei que as vezes se tem a urgência absoluta
e mesmo assim eu te peço, não se desgaste tanto...
Nem sempre se tem tempo pra resolver as coisas,
é bom deixar tudo se consumindo também.
Ver o fim disso que parece estar sempre no meio.
ou tudo se explode ao tudo se clareia, tanto faz...
É essa urgência.
É essa urgência.
Que mantêm o peito amarrado, as costas presas.
é estranho pensar que a gente se prende ao tentar emergir.
Tudo se entulha e não entendo mais nada.
Se afunda se houver emergência. Se houver emergência.
Me desculpe o trocadilho, assim nesse momento encruzilhada.
O tempo passa e meu humor se torna cada vez mais ácido.
Por ser mais ácido, com o tempo, ele se torna mais rápido
é que meu humor, é... mais rápido...

mais rápido, mais rápido, mais rápido!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

As voltas que o mundo dá

Ilusão é fácil de se ter. Um dia o sujeito acorda e descobre que nada está no lugar que ele imagina estar... ele percebe então que na prateleira do quarto, onde antes nada se sustentava, havia um clarão de coisas brilhantes, ele percebe que aquilo que, logo cedo, aquilo que por todas as antigas manhãs, brilhava lá fora, estava reluzindo bem encima da sua cabeça, que aquela velha prateleira do seu quarto, aquela mesmo que nunca servira nem sequer para guardar lembranças pequenas ou lembranças bobas que fossem, agora era o grande porta tesouros. Iludir-se é acreditar que pode ou é acreditar que não pode?

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Mais um adeus [quase uma oração]

Ele partiu de novo, indo não sei aonde, encontrar não sei quem. Depois de tantas despedidas, vejo que não importa pra onde ele está indo, importa simplesmente o de onde está saindo. Não há lugares mais importantes que outros, lugares melhores ou mais bonitos. Há apenas pessoas vivendo. O sentido não está na nas certezas.
Ele simplesmente partiu deixando pra trás construções inacabadas; um vazio profuuundo... A sensação de angustia forte no peito, a velha sensação.
Todos nós sabemos que não fará diferença ele ter partido. As dores não moram em lugares como as pessoas. As dores moram nas pessoas. E se eu vou, ela, a dor, vai comigo. Hoje mais cedo, eu estava pensando sobre como ele se sentia. Por que sempre está indo embora. Vejo, que há certas sensações que envelhecem com a gente. Sensações que maturam com o nosso tempo. Percebi que não existem porquês, não existe resposta. A partida não quer dizer nada, é somente mais um adeus. É sensação também.
Não acho que dores devam ser resolvidas. Não se resolve tudo. Não se resolve tudo. Apenas é necessário que tenhamos verdadeiramente a coragem de contemplar, o poder único de receber sem pretensão ou distinção. Talvez seja essa a única dádiva real.


Peço apenas que ele não parta mais, pois as pessoas que ele encontrará pelo caminho são as mesmas das quais ele se despediu.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Fome !

Não fale da fome se você não a tiver tocado. Se por um acaso conseguir senti-la, entregue-se a ela, se deixei tocar por ela, entenda qual é o peso da fome, qual a textura da fome, qual é o cheiro. E não pense que tocar seja o suficiente para senti-la entranhada nas vísceras. Sentir a fome é mais que isso. Diz respeito ao espírito; Andar por um túnel gotejando água gelada. È invisível, é espesso ao mesmo tempo; é insolúvel, é nojento. Não fale sobre a fome se um dia não tiver sido um miserável faminto.

Se eu fui um? me pergunte quem quiser...

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Pequenos desencantos

Acordei como se acorda todos os dias, cheio de remela nos olhos, com a cara toda marcada. Eram duas horas da tarde. Meu café da manhã? Pizza de ontem com coca sem gás, comi sem sequer esquentar no microondas. Tem dia que a gente não pensa em comer uma fruta logo quando acorda.
[Levanta se arruma e corre]
E se deitado na cama eu estava, lá eu fiquei até as quatro horas da tarde. Nesse meio tempo ainda assisti a um filme velho e ruim na TV. Quando, por algum motivo eu não esteja bem, ligo a televisão na esperança de estar passando um ótimo filme, é que eu sou suscetível, sempre me emociono com histórias bonitas, e sempre espero ver uma assim passando desprevenida na TV.
[Levanta se arruma e corre]
Acho que eu e sou um idiota qualquer, sem expectativa, sem presença de espírito. Gosto das histórias dos suicidas e dos deprimidos, mas não me deprimo com frequência, fico feliz a cada vez que me sinto deprimido e a depressão passa.
[Levanta se arruma e corre]
Quando eu me levantei, podia ter tomado um banho, escovado os dentes, ou ao menos ter dado boa tarde ao porteiro do prédio, no entanto, não escovei os dentes, não dei boa tarde a ninguém, e assim como quem tem algo a perder, calcei os sapatos com uma meia de solado marcado, e saí de casa pra mais um dia de aula. Troca de roupa, aquece, treina, treina, trabalha, potência vocal, potência vocal, senta em círculo, e sussurra pra colega do lado “eu me sinto um poço de energia eternamente enclausurada”. Na volta pra casa essa sensação de dor no peito, e vontade de arruma a vida, levantar de novo e sair correndo em disparada…
Talvez o melhor seria eu parar por aqui e dizer apenas que tive um dia triste, sem nenhuma poesia.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Areia

Me entreguei de peito aberto ao tranco. Ver se eu conseguia sobreviver ao impacto. Debrucei do décimo quinto andar do prédio onde morava, fechei os olhos e por um segundo lembrei, lembrei de tudo que havia de relevante pra ser lembrado. Dias cinzentos e chuvosa de uma dessas férias de inverno, o primeiro beijo na biblioteca da escola, a primeira paixão na coxia do teatro, o primeiro tombo de bicicleta… depois um misto de sensações no peito, primeiro um nó, depois um alívio, ainda uma dor, depois o desalento. A solidão do último instante é única solidão real. E de lá do décimo quinto, sem carta de despedida, sem angustia, sem ressaca nem ressentimento, apenas pra ver se conseguia sobreviver ao impacto, em um dia desses de sol forte, eu pulei.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Retrato em retalhos

O tempo todo como era óbvio o contentamento descontente;
Como isso era claro, óbvio;
Como ouvidos poderiam ser violados com bobos segredos lindo e indecentes.

Como eu poderia imaginar, na minha tola experiência que alguém assim, tão perfeito, tão cheio de forma e graça poderia calçar com tanta precisão o sapato perdido na escadaria? Não é tolice pensar que você pode gostar de alguém e ser retribuído?

O primeiro amor passou... o segundo amor passou... o amor simplesmente passou e você só me deu o que era confortável dar...



Drummond de Andrade
Paulo Rocha
Fabiano Rabelo

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Das paixões proibidas

Essa segurança precoce, a suposta maturidade, nada, não faz a menor diferença. É quase um problema de nascença, neste estado o garoto não pode mais ser criança, não se entende mais como criança, e nem tem credibilidade suficiente, mesmo que se apaixone verdadeiramente.
E criança como tal, nada se pôde fazer. Não fez a menor diferença a grande maturidade espiritual. A mulher estava lá, linda, simpática e quente a sua frente, talvez se se conhecessem em oito, dez anos, essa troca de olhares que em um primeiro momento foi de extrema sensualidade, não tivesse ficado apenas na atenção e bom modo para uma relação entre criança e adulto.
É uma situação quase absurda, onde os pensamentos e sensações tem que se conter por regras que não fazem o menor sentido. Por quê não poderia uma mulher de trinta e dois anos se entregar ou se mostrar atraída por um garoto de doze? Mesmo quando já está claro que o tal garoto em questão não consiga conter a emergente sensação de forte atração pela tal mulher mais velha? Independente do discernimento das pessoas ou das leis que nos regem, muito mais teria de ser levado em questão os corações que batem e batem. Os apaixonados deveriam ter o direito absoluto do prazer. Lindo seria se todos os Montecchios se apaixonassem pelos Capuletos, e assim os dois explodissem em gozos fartos e desculpados. E os finais trágicos deveriam ser menos desejados, menos divulgados. Pois assim talvez as paixões fossem menos proibidas.
Mas não… não e apenas não… e deste encontro de almas que andavam soltas ao vento, almas que continuarão em uma jornada de procura, nada mais se obteve, senão uma relação de bom modo para uma criança e um adulto.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Nem documento

silêncio!
silencio?
Sem lenço não!
Não, sem lenço

domingo, 14 de junho de 2009

Por essa noite

Se fizesse mesmo sentido, eu terminaria esse texto aqui, na primeira frase. Se fosse pra ser coerente, eu nem teria começado, pois tem coisa que não se diz… não se escreve.
Apenas se sente.
Mas é que hoje eu precisava tentar, se é que você me entende. Hoje, o dia começou tão estranho. E eu percebi que não se pode morrer sem ao menos tentar dizer. Essa ideia de que se está no céu, segurando diamantes, é linda, mas ainda não é o suficiente. Eu sei que tudo isso pode parecer meio piegas. Mas acho que vim aqui hoje pra ser mesmo um pouco ridículo.
Já perdi horas aqui, afim de escrever o que não se compreende. Um interminável digita e apaga, digita e apaga. Continuarei assim, por hoje, um dia diferente, aproveitando a besta oportunidade de perder horas tentando dizer o que apenas se sente.
É que…
Eu sempre te imagino, gosto de pensar em você. Não é com todo mundo que se tem a chance de ficar imaginando, imaginando, e quando se depara com a realidade, em nada difere a tal realidade do melhor imaginário do mundo. Faço isso com frequência… imagino… naquele show, naquele quarto com a samambaia, naquele momento.
É que… hoje… me bateu um medo, sabe? Medo de perder. Medo de não mais poder… uma angustia, uma falta de ar. E eu vim pra cá, sentei aqui, nessa vã esperança, de conseguir expor em texto, em corpo externo esse sentimento que é tão bom mas que sempre é tão interno. Essa coisa de necessidade do outro, entende?
A imaginação é tão real, é tão presente que quase posso tocar, quase posso sentir o cheiro, a textura doce e suave da pele macia… Falando assim pode até parecer mais do que é. Mas é que tem relações que são grandes demais pra se conter em palavras discretas, em frases sutis. Relações que são de corpo com corpo, que são como tatuagens. São íntimas e ao mesmo tempo não precisam de mais nada além de abraço quente e de colo. São talvez as únicas relações possuidoras do maior dom dos homens, a calma… a calma… a calma.
Acho que no fim é isso... Acho que no fim o que eu preciso agora é de um pouco de calma, um pouco de colo, de abraço… acho que preciso de um pouco de calma. Essa coisa de necessidade do outro.
É que... eu...
_____________
19 de Junho de 2008
Para Lucy

sábado, 13 de junho de 2009

E nada

Muitas águas, a pequena promessa implícita foi quebrada, e nem sequer chegamos em nosso Março, minha querida. Foram águas demais. Talvez se nós tivéssemos nos rendido inocentemente ao mistério profundo, não estaria eu aqui, um pingo pingando, um pouco sozinho, estilhaço na estrada, perdido, perdido… É o fim do verão, e sempre haverá águas novas, mesmo com todos fins


Fins sutilmente se transformam em meios. [sussurrando] - E essas transformações são despudoradas, saltam aos nosso olhos…


Nunca saberemos se foram as águas que abriram seu caminho, ou se foi o caminho que tortuoso foi guiando as águas para derradeira queda. O que importa, é que nós os peixes não importamos em nada.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Somente os limpos tem direito ao assento (Cara Preta)

E lá estará ele, à maldita companhia - Seja bem vindo ao teatro [ou apenas vindo, se for o caso] - hoje, inusitadamente pouco ele pensará, será somente pulso. Acordará deste sono profundo, desta solidão; perceberá que seus iguais, além de não serem bem vistos, na maioria das vezes sequer são visto, quase sempre estão apagados na escuridão das ruas perigosas, estão em subúrbios que ele nem imagina que existem, estão por interiores à fora ou até mesmo nas favelas ou em coberturas durante a virada.

Ele se surpreenderá com a posição pouco contemplativa dos corpos que se manterão todos de pé. O regozijo, diferentemente de outros tempos, ou de em outros templos, se dará sem reconforto, será na marra, tirado do corpo sem atento. Ele sentaria se lhe fosse permitido, e que bom que não o é, às vezes a boa relação se faz em pequenas proibições; eu fico aqui pensando que se lhe fosse permitido, muita merda ele faria, assim como fazem merda aqueles que decidem sobre o permitido e o proibido.

e depois de tanto

Quando bem ele inferir, notará que faz parte daquilo que ele não vê;
que ele, por mais que pense que não, também é êla,
que ele enxerga somente pelo chifre apesar de todos os seus saberes,
ele também faz isso do moço
e que,
por fim, ele é merda impregnada, desta sociedade de bosta, onde ele se achava, no máximo, cocô, num passado distantemente navegado.

[Do dia que seria comum, e não mais será, nada ele dirá. eminente se entregará ao seu apoio, à sua fraqueza; de novo se recuperará em letras e palavras, se esconderá na sua covardia poética. Assim como o outro, que se lavará em águas limpas ao final de sua performance, ele se lavará em palavras difíceis e harmoniosas, pois por hoje ele se sentirá sujo, tal como sempre foi, mas preferiu não notar]

Desistindo

Quando se é criança o mundo significa muito mais do que realmente ele é. Quando se é criança a gente não sabe que simplesmente não precisa ir a escola se não quisermos, ninguém vai morrer por isso, temos a certeza que faz parte, que sempre foi assim e sempre será. Eu achava que toda criança acordava e ia logo tomando seu café, que toda criança reclamava quando a mãe obrigava a comer cebola. Coisa de criança achar que todo mundo come.
Sem mais nem menos, sem ninguém me perguntar, eu cresci. Com toda a críticas. Eu, farto dessa minha gnose ociosa, sem escola nem cebola, hoje percebi que a vida e o mundo não são tão interessantes assim… é tudo um tédio, perdido numa realidade estóica.
- Essa coisa de vida é assim mesmo… a gente dorme e acorda todo dia.

domingo, 31 de maio de 2009

No seco

Acabou o que havia de interessante. Cá estamos nos de novo, apenas a olhar um para o outro; os seus olhos, a tua boca, tuas bochechas, esse seu nariz espinhento… ainda é um moleque, cheira a novo. Chego ao ponto de me sentir ofendida com tanta juventude que há em você.
Tivemos bons tempos sim, por mais que parecessem breves, foram bons. Não os trocaria por um cigarro; mas agora, não resta quase nada. Pois se houvesse algo de interessante nós não perderíamos nosso tempo a devanear futilidades, não é mesmo? Ah?! Como fomos bons juntos, talvez a melhor dupla nos últimos cem anos, pode imaginar?
Não sei bem como agir, se nos despedimos aos prantos, como nos romances ou se apenas nos despedimos. É necessário que haja despedidas? Você sabe que não fazem muito meu estilo. Sei que não devia me preocupar somente comigo agora; talvez você esteja com uma vontade emergente de me dar um abraço longo, e eu aqui a pedir que apenas se vá sem um forte adeus.

Das coisas em você que eu nunca esquecerei, está este seu olhar profundo, quase misterioso - me sinto dissecada. Não quero encontrar mais ninguém que saiba me revelar assim, sem ao menos uma palavra, pois dessa forma não há defesas que defendam, dessa forma já sabe o que se passa comigo antes mesmo eu própria saber. Sobre os nossos momentos mais íntimos, não quero nunca que você repita as mesmas frases para outra pessoa, mesmo que isso seja inevitável. Sei que daqui partes mais sábio, isso não tem problema, pois a cada novo corpo que você tocar, estará antes em teu toque o meu corpo, mesmo quando dele você nem sequer lembrar.
De tudo, um pouco ficará, e tenho certeza, que logo antes de morrer, coisa de segundos, eu e você, essa nossa história vai assim, sem mais nem menos, de repente rememorar.
Por enquanto sem mais o que dizer, apenas a nos olhar, vamos embora, que melhor hora não sei se chegará.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Sobre vocês da ordem

Eu estou pensando em colocar as coisas nos seus devidos lugares [é que por aqui, por mais que pareça ordenado, está tudo uma bagunça]. É apenas um pensamento por enquanto, mas mesmo assim acredito. Porque sem essa minha crença banal, imaculada, eu tenho certeza que nada aconteceria, que sempre tudo continuaria no mesmo qualquer lugar até que em algum momento eu pensasse em colar as coisas em seus devidos lugares e um tempo depois eu realmente organizasse tudo. Assim pelo menos eu tenho a sensação de que daqui pra frente existe, bem longe, uma possibilidade de ordenação. É preciso que se organize, pra que a gente não perca mais tempo procurando as coisas. Enquanto eu fico procurando o botão perdido da camisa eu poderia estar fazendo outra coisa. Enquanto eu fico procurando a chupeta da criança eu poderia estar fazendo outra coisa. Não sei bem o que eu poderia estar fazendo, mas ao menos poderia; do jeito que está eu não faço mais nada além de procurar, nessa desordem contínua, retroalimentativa. Essa bagunça na sala, no quarto, na cozinha, no banheiro, na casa, essa bagunça de gente, pra gente, bagunça na gente, na vida.

- Eu imagino que as pessoas bem sucedidas sabiam precisamente o lugar de cada coisa necessária pra subir na vida, daí elas subiam em vez de procurar, entende?

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Aqui e ali

Há desilusão em tudo... por Deus!
Acabou-se a calma do mundo. Eu,
um homem acostumado aos festivais
desisti de ser criança.

e tristeza

quinta-feira, 9 de abril de 2009

E assim se passarão duzentos anos

Parte sem mim, sabendo que o que você deixou pra trás é bem mais que uma simples história. Parte sem mim, com a certeza de que não há como se perpetuar o contrário do que perpetuado estava. Parte sem mim, mas não vá tão longe assim, pois o tempo e o vento já são abstinências pra essa minha alma viciada. Parte sem mim, para um lugar melhor, ou ao menos um lugar mais calmo. Que eu não aguento mais as agruras dessa cidade cinzenta e gelada. Parte sem mim, e saiba que contigo eu irei, pois comigo você ficará. Parte, vá logo. Não se despeça; deixa o fim ser mais rápido que o começo, deixa a morte do nosso toque ser subta… deixa tudo, não leve nada material. Parta daqui sem tristezas eloquentes, pois a eloquência é corrosiva a esse sentimento que em si é tão profundo. Se se sentir triste por um momento que seja, é porque se encontrou sozinho com você. Parte, parte de mim.

terça-feira, 7 de abril de 2009

O encontro

A chuva chovia forte, era noite, e não tem problema. Ele já havia esperado o dia inteiro por aquela hora, e chovia. Não seria a chuva que o iria calar. Logo depois do almoço ele já estava pronto, mas somente sairia de noite. É que tem coisa que a gente não consegue simplesmente esperar. Talvez tenha passado pela cabeça dele que se arrumando tão cedo, seria como se ele proseasse com Deus, pedindo que o tempo passe bem mais rápido que o de costume. Vestia um terno marrom, uma calça marrom e um tênis pra corrida, alguma força maior disse que ele deveria calçar tênis e não sapatos, pois agora ele estava correndo. Tinha na mão direita um cigarro apagado pela água, e na mão esquerda ele não tinha nada. Mesmo com toda ânsia, ele decidiu chegar lá, assim, sem nada. Os seus óculos estavam molhados e ele não enxergava nada também, apenas corria. Ele não pensava em nada, apenas corria… “- será que quando eu chegar eu sorrio? E se não for o suficiente?”. Mil, talvez mais, os pensamentos desde o dia anterior não paravam de corroer a sua sanidade. Ele que sempre manteve as regras, nunca esquecia o guarda-chuvas em casa; e lá estava ele molhado pela chuva. Possivelmente sequer percebeu a chuva que logo pela manhã já se anunciava.
Ele tivera no horário de pico do dia anterior um encontro desses de alma, que é quando está predestinado que duas vidas vão se encontrar e que nada poderá ser mais forte que este encontro. Um encontro aparentemente corriqueiro, desses que sempre se tem com um monte de gente que a gente não faz e nem nunca fará a menor ideia de quem seja, pessoas que vão se tornando figurantes da nossa história, figurantes sem nome, sem cheiro, sem fala. São simples linhas de vida paralelas a nossa. Mas com os dois não poderia ser assim. Primeiro eles trocaram olhares, depois, porque um tinha ficado sem graça, ou porque o outro já havia decido fazer alguma coisa a respeito, eles se cumprimentaram; um olá tímido, à distância. Mas ainda não era o suficiente. E em meio a todos, despreocupados com o que as pessoas iriam pensar surgiu ainda à distância um subto“– como se chama?”, um pouco mais de tempo e nada os impediria falar sobre o tempo que andava chuvoso, ou falar sobre a moça, caixa do supermercado, que atendia a fila entre a deles, trabalhava muito mais rápido que os outros…
Entre silêncios eloquentes e resposta singelas não havia a dúvida que era um encontro que não tinham mais o direito de deixar que se tornassem um para o outro o que qualquer pessoa que se encontra na fila se torna, um simples figurante. E assim, tendo ido embora sem planos, ou ao menos sem terem trocado telefones, a única coisa que ele sabia era que o outro, ainda estranho, morava no terceiro prédio, da avenida principal da cidade, e que estaria em casa depois do trabalho que iria até as oito da noite.
Sentindo que não poderia deixar que isso se perdesse no tempo ou no espaço, agora estava ele correndo, e sorrindo, em baixo da chuva, passando pele vigésimo terceiro prédio da avenida principal. É possível ver daqui o que já estava concebido. Uma longa história de linhas entrelaçadas; quando de repente, inesperadamente, como um tapa de Deus; o caminhão de lixo, grande, forte e potente, exatamente entre o vigésimo segundo e vigésimo primeiro prédio da avenida principal da cidade, inrrompeu à traço forte, um encontro corte na linha, deixando um desenho imcompleto no marco zero do tempo... e enquanto o outro esperava, com a forte sensação de que ainda esta noite ele iria de novo se reencontrar com aquele que já não era mais um estranho, um caminhão de lixo pôs assim, um ponto final nessa história sem fim.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

O surto

As pessoas andam virando bolha, assim sem mais nem menos, de repente bolha! Sei que em breve fecha-se-rão os cinemas, as bibliotecas, praças e tudo mais que tiver portas. Ninguém sabe como isso acontece, se é contagioso, se é vírus ou se não é nada. Estou começando a ficar assustado. Tem muito tempo que está acontecendo e não se fala nada a respeito, ainda sequer é notícia. - Grita pra ver se alguém escuta! Me sinto pequeno, na ordinária condição de homem comum. A bolha não pensa raça, credo, nacionalidade ou status, ela simplesmente pega. De repente bolha! Não há remédios ou solução. Nada se pode fazer senão, complacentemente, tornar-se. E em meio a tudo isso, o estranho é que quando fecho os olhos, tudo que me vem é a imagem de um longo pinheiro, grande, por tocar o céu, sereno e profundo... – Grita pra ver se alguém escuta!

segunda-feira, 30 de março de 2009

- Desculpem, falhei

Tem alguém aqui pronto pra falar da bizarrice das coisas? É preciso que tenha, é preciso... porque eu não posso mais continuar tentando... acho que não há mais o que dizer, talvez nunca tenha tido. Minha memória não é tão grande assim, não vi nada demais, sou comum até no modo de pensar, minha imaginação não é grande também;
É tudo muito desorganizado, sabe? Na desordem que está não serve pra nada, nem pra mim, nem pra ninguém. Acho que esta é minha falta maior. O fiasco do que dizer. A falta de assunto, a falta de personagens heróicos, a plena incapacidade de matar alguém, ou de apenas dar vida. A falta de imaginação, e de técnica, para desenvolver uma história qualquer. Eu queria falar sobre a vida das coisas, eu queria dizer sobre os detalhes não vistos. Ter o relato, a descrição, queria visualizar os momentos, os pequenos âmbitos efêmeros do que não se percebe, algo que construísse em si um início e um final, que contivesse em um retrato, ação do começo ao fim, fazer da parte o todo, do fragmento a completude. Isso não podia ter sido ambição demais. Não tinha o direito de ser meu fracasso, justo isso que é meu poder, o único lugar onde eu poderia escolher entre o sim e o não. Meu único elo de ligação com o que não é profano. O orgasmo com os Deuses.
Aqui, o lugar onde eu vivo e morro, o lugar pra onde me refugio, o lugar que me sacramenta é também, sinto em dizer... o lugar onde não existo.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Roseiral

Feche os olhos e imagine o tempo se fundindo com a pluma solta livremente embarcada no vento.

Tente ver a vida do que é coisa, que nasce e morre sem sentido. Tente ver, de olhos bem fechados, a crueza e a complexidade do belo. Tem coisa que só se constrói no total fracasso mental; coisa que se faz pelo grotesco de si própria, criações de flores num mundo de merda.

[flores num mundo de merda, merda são num mundo obcecado por flores]

Isto não é a resposta de nada; Isto não quer ser nada; Isto não tem porquês nem por onde. Não comunica nem expressa, não desentala, não colabora; Isto é merda num roseiral; Isto é corda que enrolada, preparada pra enforcar pescoços estranhos, mesmo que conhecidos. Essas palavras também não fazem o menor sentido.

domingo, 15 de março de 2009

Que o dia amanheça

Ele é como uma flor murcha, cheia de passado, que mesmo à beira da morte carrega em si a vida na sua essência. Ele pára pelas noites e olha, acho que é porque enquanto ele está vendo não está sendo visto, foi assim que se tornou espectador de histórias perdidas em esquinas, e traseiras de ônibus, as maiores histórias do mundo. Ele é a única testemunha de si próprio, não há solidão maior que sua, não há tristeza maior que sua; ele sente… e transborda. Desaprendeu a chorar. Porque o choro é como um jeitinho nas coisas, chorar pra doer menos. sob o sol, ele esperava. O vento batia, a chuva caia, mas sob o sol ele esperava. E de tanto esperar, um dia sem mais nem menos ele escreveu. Começou falando como era esperar sob o sol, que o calor que ardia não era tão ruim assim, na verdade era como a alma acalentadora de Deus. Falou das chuvas chuvosas, dos ventos ventantes, dos dias que nem chovia nem fazia sol, dos dias sem nuvens, dos dias sem cor, dos dias sem dia. Os seu coração que guardava se espalhou por papéis. Noutro dia, assim também, sem mais nem menos, escreveu uma carta, contando a história de um cidade onde as pessoas viravam bolhas, história dessas, sem pé nem cabeça, que dá na cabeça da gente. Postou sem remetente, no correio em um endereço inventado pra que um dia alguém se cansasse daquela carta fechada, sem ter sido lida, afinal as letras são a combinação de tudo que há no mundo. E depois disso, ele se sentiu grande, se sentiu preenchido como nunca havia antes, não tinha mais como parar, seu coração aprendeu a se espalhar de diversas formas, por bilhetes pra estranhos, por anúncios em jornais, por frases em muros abandonados, por notas de um real. E tanto fez; e tanto fez; que nem percebeu que a única história que continuaria a morrer com ele era a única incontável… a sua. Como um balão que vai enchendo, enchendo e quando estoura, se dissipa, acaba, some, consome… desencanta.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Morte subta

Enquanto eu vinha pra cá minhas pernas começaram a tremer. Eu ainda estou suando - cansativo correr assim – mas isso não tem problema. Enquanto eu abotoava minha blusa eu pensava um turbilhão de coisas. O inesperado é assustador. Minha boca seca, meu olhar indeciso. Eu tenho tantas imagens boas de você, tantas… é difícil dizer alguma coisa, não queria te ver assim, não sabia que Deus fazia isso com as pessoas; Você me entende, sabe o quanto é difícil. Eu ainda estou me perguntando se devia estar aqui. Talvez fosse melhor sem despedidas. Antes de entrar eu parei, olhei. E podia de lá mesmo ter gritado – Eu te amo, eu sempre amei. Mesmo que não tenha sido do jeito certo, mesmo que tenha sido com poucos abraços – fazer no grito, simplesmente dizer, porque...ninguém tem esse direito. O que você está fazendo aqui? Ainda é cedo. O que dá pra fazer de diferente agora? O que eu vou conseguir fazer igual? - Por quanto tempo vai ser isso? - Eu nunca imaginei que pudéssemos nos separar; nasci de você, eu sei que com todo mundo é assim, mas isso é muito agora, isso é tudo. Serei somente lembranças.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Delicatessen

E ela sentada lá de novo, comendo seu famoso doce de queijo. Sempre na mesma cadeira, em frente a diretoria. A cadeira reservada aos meninos atentados que pra lá são obrigados a ir. Os pés balançando por não alcançarem o chão. Olhos claros, pela branca, suave. O olhar leve e sereno de sempre. A boca apertada. Os lábios bem irrigados de sangue. Mulher ainda menina. Poderosa sem saber porquê, poderosa sem saber;

domingo, 1 de março de 2009

A boca - Os olhos

É muito louco como estamos a um centímetro do erro. Se piscarmos sem atenção pode já ser tarde demais.
Hoje eu coagi a favor do erro, e o pior, sem saber de nada. Se você estivesse de acordo, eu estaria em maus-lenções, pois não há espaço pra mim na sua cama. Hoje eu me joguei no erro, fechei os olhos por tempo indeterminado e se você se permitisse eu pulava de alma, abriria seu coração por um pouco de prazer efêmero, um prazer que nasce enfermo, seu coração estaria exposto às aranhas agora.
Nada ter acontecido, talvez tenha sido o melhor aviso divino desse dia, quase funesto. E se falarmos de culpas, de divinos, não se isente, não sorria. Só chegamos até aqui por sua força também. Que Deus nos crie, mas que ponha as culpas cristãs nas pessoas de Cristo; Pára, porque eu preciso me purificar do meu desacerto d’agora. Quase quebrei meus vasos indianos, cronstruidos de barro velho, milenares.

E se você quiser eu vou, eu largo tudo e vou, escrever já não está mais me preenchendo, fodam-se todos os preenchimentos. Vamos ser vazios, vamos pra Bahia e ficar por lá. Porque hoje eu não larguei de olhar a sua boca. E mil outras vezes eu olhei também, mas nada sai de mim, não consigo te parar e dizer: vem! Nem sei mesmo se quero que venha, ao menos dizer eu queria, mas é isso que não consigo de forma alguma. Atrair: vem! Isso deve ser algum problema de cabeça, mas quer saber; eu não ligo, pouco me importo. Não quero mais perder tempo, que se antes eu disse que não preenchia, agora digo que perde meu tempo. Levanta dessa cadeira, pára de ler essa merda! Vem! Aqui que eu estou te esperando. Sozinho, sólido, inócuo, virgem. O meu corpo está quente, meus dedos estão gelados, minha vida se perde um pouco, pulo de cigarro pra cigarro, isso quando não os esqueço longelíneos no cinzeiro. Não penso mais nada, espero. Que de gente eu já estou cheio, você sabe disso. De dias eu já estou cheio. De noites também. Vem! Meu coração transborda um estalo leve e possante, dai você conseguiria ouvir, é possante. Os meus pés tremelicam e enraízam-se, pontualmente de três em três segundos. Vem! Eu não quero saber de mais nada, não quero sentir mais nada; vou me deitar esperando a hora de você chegar e me acordar com um beijo! Vem… Já mandei parar de ler essa merda! Porque agora eu sou alma precisando de alma. Hoje sou atento-tento… os olhos fecham de novo, sozinhos, exatamente como eu: sozinhos… Ve

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

[ ]

Um dia eu vou sorrir, e será sem culpa, sem causa.
Um dia a dor vai ter fim, a lágrima refrescará a face.
Dessa vez nem o bloco do eu sozinho saiu as ruas;


(Tem algo de profundo na dor que orgulha; o homem que dói é o homem que vive. A tristeza é a forma mais suja de felicidade)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Lembra?

Nos temos as nossas verdades, mesmo que estejam mal-contadas. Não importa. Nós estávamos sozinhos o tempo todo, lembra? Trilhamos a nossa história, e eles nem viram. Eles não leram as nossas cartas, não participaram dos nossos pequenos poderes, não sentiram os nosso corações cortando o vento, quebrando medos, eles não tocaram o nosso sangue. Talves tenhamos culpa sim, talvez seja as coincidências dos nossos atos, mas sabe o que eu acho; não foi coincidência, pois nós coagimos, mesmo que em segredo. Agora, depois de tudo isso, ainda estamos ligados. Eu não lembro de uma conquista minha que não a dividimos. Edificamos uma vida inteira, e essa história se tornou maior que nós. Fomos cúmplices de crime sem culpados. O que está acontecendo?! Justamente agora que as pequinezes do tempo se foram. As pessoas [pequinezes] bobas se foram.
Nós estamos envoltos em um véu brilhante, transparente, que exorta os dedos maliciosos, que nos cuida, um véu que nos transborda uma vida de afagos, uma vida doce, de sonhos lúcidos, de confissões; um tecido tecido a dois. Fizemos um milagre fugaz; a realidade inventada. Que se desligue o nosso passado se com isso pode-se cobrir com véu o nosso futuro. Afinal, nós já somos o que nós passamos.
Se você continuar a jogar fora os símbolos do que aconteceu, ainda não terá jogado fora o que aconteceu. Pois símbolos, símbolos são.
Eles disseram que somos fracos, mas, lembre-se, eles não nos conhecem.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Amor asfixiado

Quando ela está no sofá, eu somente olho.
Se ela fosse apenas essa beleza vinicolante;
eu me embeberia, feliz, na tua presença.
Quando ela se levanta eu corro. De medo.

É que os gritos pela casa ressoam na alma.
A braveza dos seus sapatos masculinos
contrapõem
as sutís unhas pintadas de rosa e branco.
Atrás da casca uma mulher de sonhos


E no sofá, eu somente olho;
a sua beleza asfixiante.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Naturalmente simples

Andando com o pé na terra, pisando em folhas secas
rodeada de árvores grandes. Submersa numa poesia comum
sorrindo.
De blusa azul clara, short caqui, cor de terra, misturada com o chão.
bonita, nova, feia, viva... feliz.
A menina anônima num dia qualquer.
Alguém viu?

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

(Des)fé

No pulsar incessante do grande relógio dos dias, onde não há ponteiros girando, há apenas as pontas esquecidas, perdidas, fedidas. Não há mais o que se fazer por aqui [nem por lá].

Isso é sobre absurdo de gente.

Porque se parar pra gritar, o grito vai consumir, definhar. E nas cinzas nada mais pode-se fazer, nada por ninguém, nada. Depois de todas estas estações gélidas, petrificantes.
Das cinzas um grito poeiriu se vai soltar, mas nada além de levantar a alergia dos homens conseguirá, nada além de tornozelos torcidos, de tempo perdido. No máximo gritos das cinzas.. poderemos chorar feito os inconformados, chorar eternamente, mas se resolvermos não chorar, nada além se fará.

Deveria ser simples como esmagar uma pulga que nos arde. Mas não, sempre não. Tudo acontece ao nosso redor, a nosso respeito, com muito despeito de desrespeito, e nada sempre, nada... nos becos sem saída tem sempre a opção de tentar pular os muros. paredes assustadoramente altas [impuláveis]. parado. Nem andamos pra onde esperam que vamos, nem voltamos, porque de caminhos percorridos já basta. De gente palidificante percorrida já basta. Acho que o melhor é seguir o conselho das mães. Tomar pra si a culpa dos erros do mundo, e comunicar com Deus pra ver se resolve.
Mesmo sem acreditar num centelho de força divina sobre os infernos humanos.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

pilastra de hoje


Tem dia que a gente acorda com uma sensação ruim
o corpo cansado e
a mente estafada.
Sentindo tudo meio
à flor da pele, sabe?
E
quan
do
bam
bo
é difícil até mesmo
levantar daqui agora.
[Constância poética.]
Mas se acordarmos
bem, e simplesmente
sentirmos os pés no
Chão. O insustentável.
Criar no chão a nossa
força, sabendo (se)
no chão, enraizar.
É entrar em contato
com o que Deus fez
é ser um pouco Deus
A nossa própria pilastra.
A nossa base de profundazas, a pele viva entranhada, o dia amanhecente.
Somos como os icebergs, é no que está abaixo de nos que nos equilibramos.

[A vida humana é como a procura de algo já encontrado, é no fim de tudo, uma eterna perda de tempo]

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O meu pedaço de mundo

Cresci! De uma hora pra outra... Todo mundo se assustou.
Sabe o que eu acho? Que depois dos quarenta, ninguém mais acredita.

Matei a mulher que existia em mim e cresci mulher aos gritos. Gritei até perder a razão, gritei por uma vida inteira de silêncios desnecessários, assim, na hora errada, do jeito errado, no buteco da esquina.
A poeira levantada e eu respirando profundo, que se me engasgo, será por força.
O que dirá Manuel, o barista, à mim sequer se anuncia.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

[Um buraco no espelho]

Algumas coisas são mais intensas que parecem. Um beijo roubado. Algumas coisinhas…
Um olhar roubado.

Estou descobrindo muito, assim sem saber. Sem lente de aumento.

De repente blues mexicano. De repente seios despudorados.

Sabe de uma coisa?


- Eu perdi o medo de te dizer – dizendo –
Não estou aqui atrás de belezas bonitas. Mas estou atrás de belezas, você por um acaso pode me mostrar algum pedaço de mundo?

- Eu não te entendo, e não perdi medo nenhum – respondendo – Eu não te entendo, e não perdi medo nenhum

domingo, 25 de janeiro de 2009

Anônimo

Dos sexos lidos, dos sexos vistos
Apenas alguns são mais do que são,
de três dias atrás a mil e um noites em vão.

sobre sexos depravados, há sempre algum perfume inexplorado

dos sexos dos anjos, sacro-santos, abençoai-vos, mas não.
dos vírgem-sexistas, uma lástima perdida numa só vastidão.

Aqui a pobre rima, a pobre poesia

[Aqui, as delícias de alguém que mente algumas verdades fantasiadas. (Que cria e foda-me!) Porque meias verdades de uma alma, mesmo que criadora, mentiras são.
Possibilita-me um deleite intelecto-carnal. E infelizmente como para mim, hoje sim amanhã talvez, intelecto ainda é pouco frente a sublime possibilidade do carnal(-fantasioso)]


De puros reflexos horror e amor.
Por instinto prazer e rejeição.

De tudo um pouco teríamos, se fossem simples retratos de uma profunda solidão.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Surdos então

Quando eu te fizer uma pergunta, responda!
Que de pedaços já estamos cheios. Acabados
por motivos (des)conhecidos por coincidências.

Qual é a imoralidade do grito seco, empurrado?
Se se arrumar e me chamar eu vou, é só falar
alto e em bom tom, ou apenas alto,
que se dane os tons.

Escutemo-nos pela carne se os mundos convergirem.
Sorria abertamente mesmo fedendo cigarros velhos
ou então
seja simplesmente sincero ao que te perguntam

[Os silêncios dos nossos dedos mortificam uma alma mentirosa, mas viva]

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O Recomeço de hoje

Ivan acordava paranóico todos os dias. Mas nesse dia, tudo estava um pouco diferente, ele sentou na beira da cama, pensou, pensou, pensou, até que percebeu que paranóia nada mais era que paranóia da sua cabeça. É engraçado como se percebe as coisas um tempão depois que tudo já está dando errado. E quase não tinha mais jeito, tudo já estava fora do lugar. O único jeito agora era dar um jeito em tudo que era coisa, porque o que é pessoa não dá pra sair dando jeito por aí.
A primeira coisa que ele fez foi abrir as janelas de casa para voltar a ver o sol e a lua, já fazia cinco anos que tudo se parecia com breu. A segunda coisa a fazer era jogar no lixo tudo que era lixo, porque o lugar de lixo é no lixo! A terceira coisa que ele tinha que fazer era lavar as mãos e os pés (lavar as mão e os pés é metáfora de quem lava a alma).
Depois, quando tudo que ele tinha que fazer ele fez, começou a fazer coisas que não tinha que fazer, mas era bom que fizesse. E a primeira dessas coisas foi plantar girassois no jardim, que há anos não era nada além de terra batida. Os girassois são as melhores flores do mundo. Elas são as únicas que se fazem iluminar, mesmo quando tudo é neblina. Depois dos girassois plantados, lindos e crescendo, ele foi arrumar o quarto (arrumar o quarto é metáfora de quem arruma a vida) deixou tudo que era coisa em seu lugar de novo.

Recomeço.
Quanto as pessoas, não tinha muito o que fazer além de esperar, não que ele deveria ficar sentado na beira da cama esperando, esperando, esperando. Ele devia fazer sim alguma coisa, mas não tão diretamente assim. Eu digo esperar, porque tudo precisa de tempo pra se harmonizar. Mas nada nesse mundo além da natureza se harmoniza sozinho. E fazer alguma coisa quanto a pessoas, não quer dizer que se deve construir prédios ou realizar um mundo de metas. É sempre melhor começar com o que é menorzinho mesmo.
Esperar era duro. E quando temos que esperar por alguma coisa que só aconteça com o tempo, temos a impressão que nada está acontecendo, enquanto na verdade está é lentinho, a ponto de parecer que não está andando…
Decidido a esperar do jeito certo, fazendo alguma coisa, Ivan deixou de lado tudo aquilo que não existe mas incomoda profundamente. Dito isto, saiu a procura de coisas bem simples e menorzinhas, (que aparentemente também não existem, mas todo mundo sente que estão lá) como amor de mãe, amizade de amigo e olhar sincero de criança. De hoje em diante essas coisas todas farão bem a Ivan, sem que ele se preocupe se deverá ou não retribuir (para que assim ele se sentisse a vontade pra retribuir sem obrigação nenhuma).
E no fim desse dia, depois que ele voltou pra casa, com um pouquinho de amor de mãe, amizade de amigo e olhar sincero de criança, tudo, em pequeninos detalhes, depois de muitos anos estava com uma aparência muito diferente do de costume. O mundo respirava melhor no final do dia. E assim, com essa sensação boa Ivan foi dormir.


[Como essa é uma crónica de recomeço, acho prudente terminar assim, parecendo que tem muito mais coisa pela frente]

sábado, 17 de janeiro de 2009

Contrição

Ela enfileirou as suas melhores roupas e queimou. De agora pra frente ela não é mais dessas que perde tempo em frente ao espelho.

[tempo]

Tudo bem se eu for mal vestida?

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O eu

O filtro seco nas mãos
Poeira pairando no ar.

O resoluto sim, mesmo antes do não
Independente de quem se vê, há sempre quem olha.


no entanto


A água segue cristalina seu curso. Sem se perder.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O ator em cena

O ATOR entra em cena cantando “A Volta do Malandro”, Chico Buarque. No palco tem apenas uma cadeira. Ele trás às mãos duas páginas, uma contendo um texto a ser lido e a outra todo o texto da cena.

A Volta do Malandro

Eis o malandro na praça outra vez
Caminhando na ponta dos pés
Como quem pisa nos corações
Que rolaram dos cabarés

Entre deusas e bofetões
Entre dados e coronéis
Entre paramgolés e patrões
O malandro anda assim de viés

Deixa balançar a maré
E a poeira sentar no chão
Deixa a praça virar um salão
Que malandro é o barão da ralé


Contraditoriamente após cantar a música ele senta, e como a falar sobre o próprio texto da cena, esse é um espaço pra improvisar contendo obrigatoriamente apenas um frase: “tudo que eu estou dizendo agora está nesse texto, é tudo teatro, é tudo mentira”.

(este que segue em negrito é o texto a ser lido, se chama “copos quebrados”) A vida a cada chance se prova cada vez mais Amarelo Manga. Aquele Amor em Vermelho tão abundante nos filmes sempre existiu somente nos filmes.
“Segure minha mão e me acompanhe pela jornada, dois serão sempre maiores que um”. Mentira. Chega de toda essa merda.
Agora as lágrimas que escorrem pela minha face não mais que desidratam minha alma tornando-a suscetível a doenças e parasitas. Um bom sorriso, dissimulado ou não, é a parede que me protege do ladrão da razão e do bom-senso. É olhando pra frente sem esperar grandes feitos ou grandes amores, encarando que o sol de hoje é o mesmo que o de ontem, e que será o mesmo que o de amanhã que um homem se constrói. É sendo egoísta que os valores têm valor. É olhando pra frente, sem sonhar ou ilusionar as coisas que se vai em frente.
Exposta toda minha verdade fica a grande dica: goste, mas não goste tanto, afinal a essência do amor é a falsidade.



Eu te amo. Eu te amo. Ah Liz eu não te amo, eu nunca te amei.(pausa)

Eu sempre tive uma personagem. Uma personagem que era um lugar fácil, quase como uma casca protetora, que nunca me deixou apanhar. Sempre reconfortou meu ego. (apontando a um expectador) Porque você a ama. Mas não, você não me ama. “É que tem coisa que espanca, mas espanca doce! A gente sente tudo a gente se envolve com tudo! Não adianta fingir que não sente, gente sente tudo, gente se envolve com tudo”.(pausa) E por essa personagem eu comecei a fazer teatro, afinal lugar de personagem é no teatro. Aqui é o lugar dela. E eu gosto de aparecer, gosto de ser visto. Gosto que gostem de mim. E pra isso eu FAZIA teatro, pra vocês gostarem de mim. Essa personagem gosta que vocês gostem dela. (pausa) Mas infelizmente eu fui descobrindo que o teatro não é lugar pra personagens, e sim pra atores. (à frente do palco se relacionando com a cadeira onde antes estava sentado) quando eu estava te criticando, você sentiu alguma coisa? Gostou? Não gostou. E por que você não me mostrou isso hora nenhuma? (pausa) proteção, ok. Olha pra mim Fabiano, olha de verdade, seu olho está igual um vidro. Olha pra mim! Isso. Respira. Abre os braços. Deixa esse turbilhão aí dentro te levar. Se sinta grande. Vai, você é um Deus, isso um Deus. Cresce. Grande. Olha pra todo mundo, mostra pra eles que você está aqui. Isso. Deixa fluir essa energia que grita aí dentro. Essa energia que é grande é do tamanho de um Deus. Sinta isso. (pausa) Obrigado. Eu quero que você guarde isso. Escuta bem: você não está aqui pra representar. (pausa) Aqui não é lugar pra representar nada. Quem representa não serve pro teatro. (levanta e vai a centro de volta) Complicado? Eu explico. E a Liz vai me ajudar a explicar isso. Essa personagem escreveu esse texto(sacudindo a carta do primeiro texto da cena) a mais ou menos um ano atrás, e sim, ela amava. Mas era um amor que estava aqui, e isso aqui não é nada. Deus está mais no fundo, mais lá dentro.
A Liz é uma moça parisiense, e essa personagem quer um amor parisiense. Ela precisa de paris, do glamour que tem em paris, precisa tocar em paris.(pausa) E Paris não existe. As coisas são reais, o amor é real. E quem ama paris não ama. Vislumbra.
(riso) A Liz parecia que tinha saído direto de uma pintura de Michelangelo, ou então que tinha se desprendido pra sempre da até então eterna posição de estátua grega. E essa personagem disse: Liz, eu te amo. Não fazia o menor sentido. Cada lágrima que escorria pelo meu rosto só provava a essência falsa do amor. Porque não tinha amor. E sem amor, tudo não passa de teatro. E essa personagem provava ainda que eu não sentia, que eu era cinza, que as coisas são feitas pra hoje, que a profundidade era alcançada com um beijo, que o sol de cada dia era o mesmo. E isso tudo porque a pele era mais forte que o coração. E agora vejo que nessa hora não tinha Deus nenhum. Que era representação. Que estava aqui, e não aqui. E isso é mentira, o amor existe, paris não existe.
E é aí que entra o teatro.(pausa) Eu faço teatro pra parar de interpretar. É por isso que eu faço teatro, pra ser eternamente feliz, ser profundamente triste, pra deixar minha cara ser estapeada, pra tirar minha casca. Pra ficar nu. pra parar de interpretar. Pra sentir, pra ser ator. Pra viver. Pra sorrir quando for engraçado, pra gargalhar quando for muito engraçado, pra cair no chão de dor quando doer, pra amar, pra querer. Pra ser intenso, pra amar, pra ser profundo, pra gritar até minha garganta doer. Chorar quando a lágrima vier. Pra ir até paris, quem sabe? Pra desprender minha alma. Pra sentir. Sentir. Pra parar de interpretar. Pra poder não gostar quando eu não gostar. Pra amar. Pra existir. Pra amar, pra amar, pra amar. Eu te amo, eu te amo, eu te amo...

Feliz aniversário

Mais um ano cigano. Mais uma boa festa, mais champanhe. Façamos festa, façamos muitas festas pra calar os vizinhos, pra abafar o vapor. Criar é uma escolha, é uma questão de decisão, precisa-se um pouco de tudo, de cultura a cigarros, um pouco de tudo. E muita dor, muita angústia pra um minuto de leveza, a “insustentável leveza”.
Por hoje, um dia depois, passou de novo a mesma enxurrada de sempre, sempre esperada. O cheiro de terra molhada segue o seu percurso, exalando poder. A rua vazia, o medo dos raios, os raios são insistentes, eles vêem, sempre vêem!
Por enquanto sem mais o que dizer eu sigo fazendo festas…


“Sempre fazendo festas pra encobrir o silêncio”.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Malas à cama

Aquela tarde que começara mal ainda me guardara uma surpresa.
A luz batia em seu rosto de uma forma singular, senti naquele momento que nunca mais veria rosto algum com tanta forma e graça.
O amor nunca é tão cruel como quando você acha que ele vai acabar.
Ela olhava um retrato pintado em 7 de abril de 1875. Lembro-me bem deste dia. Foi um dia como outro qualquer, pic-nic no parque central. Conversamos sobre o dia, sobre o amor, sobre nós, sobre a sogra engraçada da mesa ao lado, a vida, a morte e o que separa essas duas partes.
Vendo ela olhar o retrato com tanta melancolia, recordei-me daquele dia comum com um intimidade inesperada. Eu, naquela época, era convicto da infinidade e da plenitude.
Quando percebeu minha chegada, era como se o olhar que ela me dera não pertencesse a nossa história. Tinha uma frieza que me congelou e que me fez sangrar com o copo de vinho que se soltara da minha mão manchando pra sempre o tapete Persa pelo qual passamos horas a fio em sua procura, quando a ternura ainda não havia se perdido.
Em que momento o nosso amor se esvaiu? Que movimento para esquerda ou para direita o transformara nisso?
Parecia que um tornado tinha visitado nosso quarto, a camisa de botão dourada, no chão, o porta-jóias revirado, o vestido de ceda mal dobrado.
Eu acreditava também que mesmo que os amantes se perdessem o amor ficaria, e com um casamento que transcendia através do tempo, não havia como amantes se sustentarem.
Fui em sua direção sentindo paradoxalmente prazer e morte, amor e ódio. " Não. É melhor que você não me toque." Foi a pior coisa que ela me dissera em uma vida inteira de dedicação e companheirismo.
olhei para o espelho a meu lado esquerdo e percebi a lágrima que corria errante pela minha face. Isso não poderia acontecer. Sempre era tão cômodo estar a sua presença. E somente nesse momento percebi que um dia, não sei quando, eu havia parado de conquista-la. Ato esse que feria como adaga o mundo perfeito e ilusório daquele rapaz apaixonado em busca de uma vida inteira, no dia 7 de Abril de 1875.



_______________
19 de Junho de 2005
Fabiano Rabelo

Hoje sim, amanhã talvez



Daqui a pouco o dia clareia… e eu estou no momento, e eu sou no momento. Eu não paro mais de pensar em como as coisas escolhem a gente, e… e… e nada! Nada pode ser feito, são as coisas que escolhem. Se você for uma criança nascida no Norte, pronto, natação, ballet, sapateado, penteado. Se nascer no sul, natação talvez, ballet talvez, sapateado talvez… nunca há como escolher, as coisas são como são e mais nada a escolher…
Para os desconformados pouco a se fazer… e ainda se ensina nas escolas que hoje não vivemos mais uma sociedade estamental. Mas eu digo: vivemos! Pena ninguém poder escutar… quem ou longe conseguir ouvir repita com todas as forças; VIVEMOS.
Logo chegará minha vez, logo chegará a vez de todo mundo que tem vez, que tem chance. Quisera eu ser um idiota apenas, sem saber como andar sozinho, sem saber que andar faz parte, assim ao menos eu repararia mais em flores simplesmente. Pra quem conhece Lars Von Trier sabe que os idiotas tem seu lugar ao sol. Talvez ele sejam realmente mais felizes. Mas “talvez” não entra mais nas minhas escritas, não por hoje, não nesse momento do agora. Porque agora eu não sou talvez, sou apenas sim.