segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Areia

Me entreguei de peito aberto ao tranco. Ver se eu conseguia sobreviver ao impacto. Debrucei do décimo quinto andar do prédio onde morava, fechei os olhos e por um segundo lembrei, lembrei de tudo que havia de relevante pra ser lembrado. Dias cinzentos e chuvosa de uma dessas férias de inverno, o primeiro beijo na biblioteca da escola, a primeira paixão na coxia do teatro, o primeiro tombo de bicicleta… depois um misto de sensações no peito, primeiro um nó, depois um alívio, ainda uma dor, depois o desalento. A solidão do último instante é única solidão real. E de lá do décimo quinto, sem carta de despedida, sem angustia, sem ressaca nem ressentimento, apenas pra ver se conseguia sobreviver ao impacto, em um dia desses de sol forte, eu pulei.

3 comentários:

  1. Flávia10:43

    "está clareando, está clareando"

    ResponderExcluir
  2. Beautiful. Gosto de textos assim ;)

    ResponderExcluir
  3. é....seus textos me deixam assim
    sem ar...


    Dayane

    ResponderExcluir