quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

O Japão acorda comigo

Dessa vez não tem música nenhuma tocando ao fundo, inspirando meu choro. É o silêncio, um cigarro aceso, o ambiente à meia luz, o relógio no esterno tic-tac. Sou eu e a tela, eu e o texto. O dia não parou, as pessoas estão dormindo agora. Elas trabalharam, estudaram, correram, transaram, morreram… As pessoas almoçaram em restaurantes chique hoje, elas também não almoçaram, elas resolveram problemas de casa, elas procuraram novas casas, elas compraram tijolos, elas… elas foram a missa, olharam a hora, mas não escutaram o tic-tac, - . - . - . - . - . - . - . - . - . - … esse é meu! Os heróis salvaram o mundo de novo, e eu: - . - . - . - . - . - . - . - . - . - . - . - . - … eu ainda respiro, e acho que vou continuar fazendo isso por um bom tempo. Daqui a pouco eu vou ligar a televisão na esperança de ver um bom filme. Já faz muito é essa a minha grade esperança. O tempo (- . - . - . - . -) me ensinou que “grandes esperanças” nunca poderam ser muito maior que as pequenas. Plantar firme os pés no chão evita grandes quedas. Mas enfim, hoje eu vim aqui por um motivo bem simples, caro leitor. Vim aqui pra contar que de vez em quando eu gosto de olhar pro verde das árvores mais vivas, e se eu pudesse te dizer só uma única coisa, eu diria: olhe paras árvores quando tiver algum tempo, elas estão lá e de lá não vão sair. Não precisa ter pressa. Eles são grandes e pra isso precisam somente do sol e de um pouco d’água. As árvores ensinam mais que qualquer um pode imaginar. Elas têm a paciência dos lentos, elas têm a beleza de Deus. Ah! Se Deus fosse um de nós. Talvez seriamos verdes.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Serenata de verdade

Os olhos voltados pra dentro. Assim por dizer um contorcionismo ótico. Noite que desce até o meu quarto, guardando a surpresa de hoje, noite firme de estrelas cadentes que emudecem pensamentos que não sejam desejos. Eu canto e nem faço ideia do que, simplesmente canto em uma espera sem fim que havia muito tempo fazia parte de mim. É hoje, a grande noite, é sempre a última. Eu não te minto: me conforto em ser sozinha, há uma doce luz no silêncio. Conforto não tem nada a ver com felicidade. Nem precisa me dizer, eu sei que felicidade é palavra grande demais, maior que o céu que cobre o mundo todo. Mas as estrelas hoje resolveram me dizer que elas podem cortar o céu o quanto quiserem. Céu grande demais às vezes. Aprendi com o tempo que a dor tem muito a ver com céu. Virei uma formiguinha no exato momento que me deitei hoje nessa cama esperando, esperando… sempre soube que pensamento nunca foi verdade, sempre soube que olhar pra dentro é estar de olhos fechados pro mundo grande. E sempre. Duas horas da manhã, mas ainda é noite, é a madrugada da gente. Duas e quinze da manhã, mas ainda é noite, é a madrugada da gente. Acordar é só depois que se consegue dormir. É longe que eu sinto prazer. E dia nunca acaba até que o gosto de sono desperte o dia. Duas e meia da manhã é espera demais, os olhos se fecham, e não para apenas olhar pra dentro, pra me entregar aos sonhos. Aprendi a ser dócil nos sonhos, pois são eles a minha única realidade, quanto aos meus olhos estão fechados, eu estou vivendo, sem a divindade, sem a felicidade, sem a tristeza, sem o silêncio, sem som nenhum também, sem a luz, simplesmente a realidade. A minha serenata em valsas leves, levitando a abordo de um barco com asas pra única realidade. O meu ponto chave. O lugar onde palavra é grande, e céu é maior ainda, a única serenata que me é permitida. Felicidade não existe mais. Boa noite pra você. Ser dócil no sonho.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

“Feliz aniversário, meu caro!” diria meu irmão, se ele estivesse aqui comigo, mas ele está tão perto do gelo que talvez, se ele tiver dito, a frase tenha se congelado no caminho. Mesmo assim, meu caro irmão, eu digo - não há gelo que congele - mas essa frase também não chegará a lugar algum. Mas enfim não é por falta de cumprimentos que não faço aniversário. Mas mesmo assim por que não eu mesmo não me digo? - Feliz aniversário, meu caro! - É só mais um passo. São mais velas apagadas, mais tempo apagado, já vivido.
Dessa vez foram poucas pessoas em uma mesa de bar reunidas em bebedeiras e sorrisos, e de novo - Felicidades, amigo! Janeiro tem cara de reveillon, tempo de renovação, de paz, de boas novas. Exatamente como nas dezoito outras datas felizes infelizes que eu já soprei. E sempre eu volto aqui, ao mesmo texto, as mesmas palavras. Com sorte dessa vez dê tudo certo realmente. Talvez eu me forme, talvez eu me rematricule, talvez eu seja aprovado, talvez eu me encontre. Mas continuo com a impressão que vou continuar vagando pelas esquinas do tempo, passando por pessoas novas, passando por lugares novos, passando por novos momentos, quem sabe o meu verdadeiro eu esteja escondido numa esquina, logo depois de uma curva sem destino. De repente a glória de uma conquista. Aí o pessimismo morre e leva com ele esse vazio de alma. Quem dera fosse apenas dinheiro. Quem dera fosse apenas meu pai. Quem dera fosse apenas a maldita aprovação! Eu olho bem de longe, e bem de perto. Vejo que é apenas eu. E aí “apenas” não serve mais. É eu e não tem “apenas” nisso. Eu sou o meu maior problema. Ainda vou poder deitar numa cama e dormir sem chorar. E essa é a única frase que não faz parte do meu pessimismo, a única. Sempre, a cada virada de ano, a cada aniversário eu a repito, e pouco antes de dormir choro. Aos meus amigos: que mil dias sejam hoje! Ao meu amor: que o nosso tempo não pare! À lucy: sempre! Ao meu pai: que Deus esteja ao seu lado! E a mim: você tem o que merece, nem mais nem menos. Feliz aniversário, meu caro.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O vício

Em linhas tortas. E de repente eu...
Longe, muito longe... Acalmado pelo cheiro do campo. Um lugar onde sol nasce primeiro, onde sol nasce mais quente. Terra de gente fina. Terra de gente humilde. Longe, muito longe... de mim. E de repente eu... Parado aqui eu me pego pensando, onde está meu ardido de asfalto? É sempre lá que eu ganho o derradeiro beijo. Respiração, concentração, ar fresco da geladeira do vizinho. Carne quente no bar da esquina, um livro azul pra descansar do descanso, um lugar onde o sol anda menos depressa! O cacarejar da galinha é ótimo despertador natural, galinha que cinco dias antes eu estaria implorando que a enforcassem e queimassem em brasa... mas enfim... Uma mesa, com bolo e café, leite quente, cabaça com água, um papo leve, leve de papo. Nostalgia é só palavras, só palavra, sem toque, sem tato. De repente é tudo infância. Pé no chão, moleque na rua, o pudim esfriando na janela, enchendo de água na boca da gente. E no meio da rua também de repente, pelas linhas desativadas, o trem que passa levando o mundo todo naqueles vagões intermináveis, por onde vagava (perdão pelo trocadilho) as mais doces fantasias de criança, menino pequeno correndo atrás nos trilhos, gastando todo combustível de homem em impulsos inúteis pra pegar o mundo todo dentro daquela monte de ferro andante. Nostalgia é palavra que não serve pra nada, fantasia pra mim, fansatasia pra ti!
Um cigarro depois do café, um golpe nas lembranças enchendo de fumaça o piar dos pássaros selvagens. E a triste lembrança de uma estrada inteira pela frente, lembrança essa que parece vir do passado sem que ainda nem perto esteja de presente. De novo mais um trago, de novo mais um pássaro, a paisagem verde, a rede parada, sem ninguém, sem nenhum balanço, a espera de mais um descanso. O último trago, e fumaça, fumaça, fumaça, e fumaça e cidade grande com toda fumaça. E fumaça.