domingo, 25 de janeiro de 2009

Anônimo

Dos sexos lidos, dos sexos vistos
Apenas alguns são mais do que são,
de três dias atrás a mil e um noites em vão.

sobre sexos depravados, há sempre algum perfume inexplorado

dos sexos dos anjos, sacro-santos, abençoai-vos, mas não.
dos vírgem-sexistas, uma lástima perdida numa só vastidão.

Aqui a pobre rima, a pobre poesia

[Aqui, as delícias de alguém que mente algumas verdades fantasiadas. (Que cria e foda-me!) Porque meias verdades de uma alma, mesmo que criadora, mentiras são.
Possibilita-me um deleite intelecto-carnal. E infelizmente como para mim, hoje sim amanhã talvez, intelecto ainda é pouco frente a sublime possibilidade do carnal(-fantasioso)]


De puros reflexos horror e amor.
Por instinto prazer e rejeição.

De tudo um pouco teríamos, se fossem simples retratos de uma profunda solidão.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Surdos então

Quando eu te fizer uma pergunta, responda!
Que de pedaços já estamos cheios. Acabados
por motivos (des)conhecidos por coincidências.

Qual é a imoralidade do grito seco, empurrado?
Se se arrumar e me chamar eu vou, é só falar
alto e em bom tom, ou apenas alto,
que se dane os tons.

Escutemo-nos pela carne se os mundos convergirem.
Sorria abertamente mesmo fedendo cigarros velhos
ou então
seja simplesmente sincero ao que te perguntam

[Os silêncios dos nossos dedos mortificam uma alma mentirosa, mas viva]

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O Recomeço de hoje

Ivan acordava paranóico todos os dias. Mas nesse dia, tudo estava um pouco diferente, ele sentou na beira da cama, pensou, pensou, pensou, até que percebeu que paranóia nada mais era que paranóia da sua cabeça. É engraçado como se percebe as coisas um tempão depois que tudo já está dando errado. E quase não tinha mais jeito, tudo já estava fora do lugar. O único jeito agora era dar um jeito em tudo que era coisa, porque o que é pessoa não dá pra sair dando jeito por aí.
A primeira coisa que ele fez foi abrir as janelas de casa para voltar a ver o sol e a lua, já fazia cinco anos que tudo se parecia com breu. A segunda coisa a fazer era jogar no lixo tudo que era lixo, porque o lugar de lixo é no lixo! A terceira coisa que ele tinha que fazer era lavar as mãos e os pés (lavar as mão e os pés é metáfora de quem lava a alma).
Depois, quando tudo que ele tinha que fazer ele fez, começou a fazer coisas que não tinha que fazer, mas era bom que fizesse. E a primeira dessas coisas foi plantar girassois no jardim, que há anos não era nada além de terra batida. Os girassois são as melhores flores do mundo. Elas são as únicas que se fazem iluminar, mesmo quando tudo é neblina. Depois dos girassois plantados, lindos e crescendo, ele foi arrumar o quarto (arrumar o quarto é metáfora de quem arruma a vida) deixou tudo que era coisa em seu lugar de novo.

Recomeço.
Quanto as pessoas, não tinha muito o que fazer além de esperar, não que ele deveria ficar sentado na beira da cama esperando, esperando, esperando. Ele devia fazer sim alguma coisa, mas não tão diretamente assim. Eu digo esperar, porque tudo precisa de tempo pra se harmonizar. Mas nada nesse mundo além da natureza se harmoniza sozinho. E fazer alguma coisa quanto a pessoas, não quer dizer que se deve construir prédios ou realizar um mundo de metas. É sempre melhor começar com o que é menorzinho mesmo.
Esperar era duro. E quando temos que esperar por alguma coisa que só aconteça com o tempo, temos a impressão que nada está acontecendo, enquanto na verdade está é lentinho, a ponto de parecer que não está andando…
Decidido a esperar do jeito certo, fazendo alguma coisa, Ivan deixou de lado tudo aquilo que não existe mas incomoda profundamente. Dito isto, saiu a procura de coisas bem simples e menorzinhas, (que aparentemente também não existem, mas todo mundo sente que estão lá) como amor de mãe, amizade de amigo e olhar sincero de criança. De hoje em diante essas coisas todas farão bem a Ivan, sem que ele se preocupe se deverá ou não retribuir (para que assim ele se sentisse a vontade pra retribuir sem obrigação nenhuma).
E no fim desse dia, depois que ele voltou pra casa, com um pouquinho de amor de mãe, amizade de amigo e olhar sincero de criança, tudo, em pequeninos detalhes, depois de muitos anos estava com uma aparência muito diferente do de costume. O mundo respirava melhor no final do dia. E assim, com essa sensação boa Ivan foi dormir.


[Como essa é uma crónica de recomeço, acho prudente terminar assim, parecendo que tem muito mais coisa pela frente]

sábado, 17 de janeiro de 2009

Contrição

Ela enfileirou as suas melhores roupas e queimou. De agora pra frente ela não é mais dessas que perde tempo em frente ao espelho.

[tempo]

Tudo bem se eu for mal vestida?

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O eu

O filtro seco nas mãos
Poeira pairando no ar.

O resoluto sim, mesmo antes do não
Independente de quem se vê, há sempre quem olha.


no entanto


A água segue cristalina seu curso. Sem se perder.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O ator em cena

O ATOR entra em cena cantando “A Volta do Malandro”, Chico Buarque. No palco tem apenas uma cadeira. Ele trás às mãos duas páginas, uma contendo um texto a ser lido e a outra todo o texto da cena.

A Volta do Malandro

Eis o malandro na praça outra vez
Caminhando na ponta dos pés
Como quem pisa nos corações
Que rolaram dos cabarés

Entre deusas e bofetões
Entre dados e coronéis
Entre paramgolés e patrões
O malandro anda assim de viés

Deixa balançar a maré
E a poeira sentar no chão
Deixa a praça virar um salão
Que malandro é o barão da ralé


Contraditoriamente após cantar a música ele senta, e como a falar sobre o próprio texto da cena, esse é um espaço pra improvisar contendo obrigatoriamente apenas um frase: “tudo que eu estou dizendo agora está nesse texto, é tudo teatro, é tudo mentira”.

(este que segue em negrito é o texto a ser lido, se chama “copos quebrados”) A vida a cada chance se prova cada vez mais Amarelo Manga. Aquele Amor em Vermelho tão abundante nos filmes sempre existiu somente nos filmes.
“Segure minha mão e me acompanhe pela jornada, dois serão sempre maiores que um”. Mentira. Chega de toda essa merda.
Agora as lágrimas que escorrem pela minha face não mais que desidratam minha alma tornando-a suscetível a doenças e parasitas. Um bom sorriso, dissimulado ou não, é a parede que me protege do ladrão da razão e do bom-senso. É olhando pra frente sem esperar grandes feitos ou grandes amores, encarando que o sol de hoje é o mesmo que o de ontem, e que será o mesmo que o de amanhã que um homem se constrói. É sendo egoísta que os valores têm valor. É olhando pra frente, sem sonhar ou ilusionar as coisas que se vai em frente.
Exposta toda minha verdade fica a grande dica: goste, mas não goste tanto, afinal a essência do amor é a falsidade.



Eu te amo. Eu te amo. Ah Liz eu não te amo, eu nunca te amei.(pausa)

Eu sempre tive uma personagem. Uma personagem que era um lugar fácil, quase como uma casca protetora, que nunca me deixou apanhar. Sempre reconfortou meu ego. (apontando a um expectador) Porque você a ama. Mas não, você não me ama. “É que tem coisa que espanca, mas espanca doce! A gente sente tudo a gente se envolve com tudo! Não adianta fingir que não sente, gente sente tudo, gente se envolve com tudo”.(pausa) E por essa personagem eu comecei a fazer teatro, afinal lugar de personagem é no teatro. Aqui é o lugar dela. E eu gosto de aparecer, gosto de ser visto. Gosto que gostem de mim. E pra isso eu FAZIA teatro, pra vocês gostarem de mim. Essa personagem gosta que vocês gostem dela. (pausa) Mas infelizmente eu fui descobrindo que o teatro não é lugar pra personagens, e sim pra atores. (à frente do palco se relacionando com a cadeira onde antes estava sentado) quando eu estava te criticando, você sentiu alguma coisa? Gostou? Não gostou. E por que você não me mostrou isso hora nenhuma? (pausa) proteção, ok. Olha pra mim Fabiano, olha de verdade, seu olho está igual um vidro. Olha pra mim! Isso. Respira. Abre os braços. Deixa esse turbilhão aí dentro te levar. Se sinta grande. Vai, você é um Deus, isso um Deus. Cresce. Grande. Olha pra todo mundo, mostra pra eles que você está aqui. Isso. Deixa fluir essa energia que grita aí dentro. Essa energia que é grande é do tamanho de um Deus. Sinta isso. (pausa) Obrigado. Eu quero que você guarde isso. Escuta bem: você não está aqui pra representar. (pausa) Aqui não é lugar pra representar nada. Quem representa não serve pro teatro. (levanta e vai a centro de volta) Complicado? Eu explico. E a Liz vai me ajudar a explicar isso. Essa personagem escreveu esse texto(sacudindo a carta do primeiro texto da cena) a mais ou menos um ano atrás, e sim, ela amava. Mas era um amor que estava aqui, e isso aqui não é nada. Deus está mais no fundo, mais lá dentro.
A Liz é uma moça parisiense, e essa personagem quer um amor parisiense. Ela precisa de paris, do glamour que tem em paris, precisa tocar em paris.(pausa) E Paris não existe. As coisas são reais, o amor é real. E quem ama paris não ama. Vislumbra.
(riso) A Liz parecia que tinha saído direto de uma pintura de Michelangelo, ou então que tinha se desprendido pra sempre da até então eterna posição de estátua grega. E essa personagem disse: Liz, eu te amo. Não fazia o menor sentido. Cada lágrima que escorria pelo meu rosto só provava a essência falsa do amor. Porque não tinha amor. E sem amor, tudo não passa de teatro. E essa personagem provava ainda que eu não sentia, que eu era cinza, que as coisas são feitas pra hoje, que a profundidade era alcançada com um beijo, que o sol de cada dia era o mesmo. E isso tudo porque a pele era mais forte que o coração. E agora vejo que nessa hora não tinha Deus nenhum. Que era representação. Que estava aqui, e não aqui. E isso é mentira, o amor existe, paris não existe.
E é aí que entra o teatro.(pausa) Eu faço teatro pra parar de interpretar. É por isso que eu faço teatro, pra ser eternamente feliz, ser profundamente triste, pra deixar minha cara ser estapeada, pra tirar minha casca. Pra ficar nu. pra parar de interpretar. Pra sentir, pra ser ator. Pra viver. Pra sorrir quando for engraçado, pra gargalhar quando for muito engraçado, pra cair no chão de dor quando doer, pra amar, pra querer. Pra ser intenso, pra amar, pra ser profundo, pra gritar até minha garganta doer. Chorar quando a lágrima vier. Pra ir até paris, quem sabe? Pra desprender minha alma. Pra sentir. Sentir. Pra parar de interpretar. Pra poder não gostar quando eu não gostar. Pra amar. Pra existir. Pra amar, pra amar, pra amar. Eu te amo, eu te amo, eu te amo...

Feliz aniversário

Mais um ano cigano. Mais uma boa festa, mais champanhe. Façamos festa, façamos muitas festas pra calar os vizinhos, pra abafar o vapor. Criar é uma escolha, é uma questão de decisão, precisa-se um pouco de tudo, de cultura a cigarros, um pouco de tudo. E muita dor, muita angústia pra um minuto de leveza, a “insustentável leveza”.
Por hoje, um dia depois, passou de novo a mesma enxurrada de sempre, sempre esperada. O cheiro de terra molhada segue o seu percurso, exalando poder. A rua vazia, o medo dos raios, os raios são insistentes, eles vêem, sempre vêem!
Por enquanto sem mais o que dizer eu sigo fazendo festas…


“Sempre fazendo festas pra encobrir o silêncio”.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Malas à cama

Aquela tarde que começara mal ainda me guardara uma surpresa.
A luz batia em seu rosto de uma forma singular, senti naquele momento que nunca mais veria rosto algum com tanta forma e graça.
O amor nunca é tão cruel como quando você acha que ele vai acabar.
Ela olhava um retrato pintado em 7 de abril de 1875. Lembro-me bem deste dia. Foi um dia como outro qualquer, pic-nic no parque central. Conversamos sobre o dia, sobre o amor, sobre nós, sobre a sogra engraçada da mesa ao lado, a vida, a morte e o que separa essas duas partes.
Vendo ela olhar o retrato com tanta melancolia, recordei-me daquele dia comum com um intimidade inesperada. Eu, naquela época, era convicto da infinidade e da plenitude.
Quando percebeu minha chegada, era como se o olhar que ela me dera não pertencesse a nossa história. Tinha uma frieza que me congelou e que me fez sangrar com o copo de vinho que se soltara da minha mão manchando pra sempre o tapete Persa pelo qual passamos horas a fio em sua procura, quando a ternura ainda não havia se perdido.
Em que momento o nosso amor se esvaiu? Que movimento para esquerda ou para direita o transformara nisso?
Parecia que um tornado tinha visitado nosso quarto, a camisa de botão dourada, no chão, o porta-jóias revirado, o vestido de ceda mal dobrado.
Eu acreditava também que mesmo que os amantes se perdessem o amor ficaria, e com um casamento que transcendia através do tempo, não havia como amantes se sustentarem.
Fui em sua direção sentindo paradoxalmente prazer e morte, amor e ódio. " Não. É melhor que você não me toque." Foi a pior coisa que ela me dissera em uma vida inteira de dedicação e companheirismo.
olhei para o espelho a meu lado esquerdo e percebi a lágrima que corria errante pela minha face. Isso não poderia acontecer. Sempre era tão cômodo estar a sua presença. E somente nesse momento percebi que um dia, não sei quando, eu havia parado de conquista-la. Ato esse que feria como adaga o mundo perfeito e ilusório daquele rapaz apaixonado em busca de uma vida inteira, no dia 7 de Abril de 1875.



_______________
19 de Junho de 2005
Fabiano Rabelo

Hoje sim, amanhã talvez



Daqui a pouco o dia clareia… e eu estou no momento, e eu sou no momento. Eu não paro mais de pensar em como as coisas escolhem a gente, e… e… e nada! Nada pode ser feito, são as coisas que escolhem. Se você for uma criança nascida no Norte, pronto, natação, ballet, sapateado, penteado. Se nascer no sul, natação talvez, ballet talvez, sapateado talvez… nunca há como escolher, as coisas são como são e mais nada a escolher…
Para os desconformados pouco a se fazer… e ainda se ensina nas escolas que hoje não vivemos mais uma sociedade estamental. Mas eu digo: vivemos! Pena ninguém poder escutar… quem ou longe conseguir ouvir repita com todas as forças; VIVEMOS.
Logo chegará minha vez, logo chegará a vez de todo mundo que tem vez, que tem chance. Quisera eu ser um idiota apenas, sem saber como andar sozinho, sem saber que andar faz parte, assim ao menos eu repararia mais em flores simplesmente. Pra quem conhece Lars Von Trier sabe que os idiotas tem seu lugar ao sol. Talvez ele sejam realmente mais felizes. Mas “talvez” não entra mais nas minhas escritas, não por hoje, não nesse momento do agora. Porque agora eu não sou talvez, sou apenas sim.