sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Nada espera por mim!

Escalei com todos os ossos do meu corpo, empilhei pedaço por pedaço, abri espaços longos nas minhas articulações, me equilibrei, meio desequilibrado, na ponta dos meus pés. Ainda assim não consegui ver por cima do muro. Estou pendurado na incerteza da ignorância. Sei que depois do muro tem um jardim de grama verde e extensa, com os mais variados tipos de bromélias, com rosas brancas; sei que depois do muro tem uma árvore forte, com flores azuis; que depois do jardim tem uma casa no estilo colonial, com paredes brancas, pilastra e janelas grandes; que dentro dessa casa tem móveis antigos, cômodas da moda de outro tempo; que dentro dessa casa tem sofás com o estofado cheiroso; que lá a beleza se faz na rotina da existência; sei que há cupins nos armários, mas que isso é aceitável para que mesmo com toda serenidade haja algum pranto fazendo real a felicidade que existe lá. Tudo isso espera por mim. É preciso esperar que chuva chegue bem forte para que o muro se derrube sobre o céu, se estilhasse em pequeninas partículas voando para o espaço. Para que então eu entre, pisando na terra com os pés descalços, sentindo o poder de me sujar de lama. Eu poderia pular agora mesmo, e não só tentar ver o que me espera pra eu descansar, o esforço seria grande, mas a dor seria recompensada. Contudo, pular não é alternativa frutífera. Pois depois do muro há apenas um abismo sem fim.