quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Nem bem, nem mau

Ele deu um grito um grito, mas não foi assim um grito como a gente costuma ouvir, era quase, um meio grito. Aguuudo… quem entende mesmo de grito diria que foi um falsete. E aí tem um coisa engraçada, eu que sempre achei que entendia de grito não vi que ele estava era de estômago vazio. Achei que era só desespero mesmo. Mas pra tudo tem classe, tem nome. Você sabe o seu nome? Ele talvez diga um nome, apenas um nome quando eu perguntar que é ele. Mas um nome? Dois copos quebraram simultâneos a seu grito. As paredes deixaram cair um pedaço da casca que as cobria, mas só um grito? Tem grito que invade e ele nem precisa ser palavra, pode ser somente som. Os cacos dos copos não são do tipo que corta gente não os desses dois copos, mas sim do tipo que reflete a gente, se estiverem quebrados, é claro. E depois desse grito, eu que não entendo de grito achei que ele fosse cair… nos vidros e nas cascas, mas ele correu, não sei se foi dos cacos, e quando eu olhei de novo, lá longe estava ele, mais longe que a distância, quase a perder o tato. E de tato, ah! Com certeza eu não entendo. Só sei que é a mão que nos diz o futuro, talvez nela se possa ver outros gritos, ou talvez o silêncio. O silêncio das mãos, o silêncio dos gritos! Mas ele correu… correu. E eu que também não entendo de corrida vi na corrida dele que era tato que ele queria, mas estava longe, mais longe que a distância. Nem o tato ele podia ter. sei apenas, e isso eu realmente sei, que ele não tem digitais, são somente mãos sem sentido. Tato? O que é T A T O, uma palavra?

domingo, 23 de dezembro de 2007

A gente é obrigado a nascer e morrer

É como uma agulha sem linha que vai furando tudo pelo caminho sem costurar nada! Depois a gente tem que responder pelo que faz! Aí a gente se ferra totalmente se a resposta for "não sei", e quer saber de uma coisa? Não sei! Não faço a menor ideia! Que caia uma bomba em plena praça sete! eu não sei... e isso é real. A gente pode tocar no nosso medo se não tiver medo de saber que ele existe. tudo some ás vezes. Tem um cigarro? Eu estou aqui, perdido no meio do nada, criando uma história de mentira. Sorrindo porque tenho que sorrir, chorando porque tenho que chorar, vivendo porque tenho que viver. Chamem todos os padres, todos os budas, que eles tragam o poder de mil curas! Você sabe onde guarda isso? Não tem cor nenhuma, mas fede feito um pato morto e mal enterrado. E se tem que ser assim que eu não acorde mais, que a busca acabe aqui! É um sim por um não; e toalhas secas, claro, sempre toalhas limpas e secas. E se responde a tudo responde também ao que não pergunta! Eu não quero saber! entende isso? Lá na terra do eu-sou-feliz como as pessoas dizem adeus? Elas cagam lá? Me dá a merda do cigarro! Eu sou fumante, não percebe? Sente o gosto, é o cigarro impregnado nas minhas veias. É a minha alma clamando pelo seu socorro. Acorda! Eu estou num poço tão fundo que a alma pura morreria ao se aproximar. eu sou o pato morto, maldito e acabado. acabado aqui, sem minhas repostas. Porque não é você que responde minhas perguntas. E saiba: Deus não existe mais pra mim, e se isso te mata um pouco, que você fique aos pedaços! Eu sou agulha, entende? Agulha, sem linha!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Cuida de mim?

É cuida de mim, me põe em baixo da sua asa e faz um cafuné. Eu não sei o que eu faria, realmente. É assim, fechar os olhos de novo e acordar no meio do sonho. É tudo para o universo. Quanto tempo se passou? Parece que foi ontem, e a gente ainda era flor fechada. Mas não, está tudo bem, está bem. Eu cuido de você. Deita aqui em baixo da minha asa. Eu vou te fazer um cafuné. Fecha os olhos. Sonhe. Não se assuste. Você está no meio do nada, e no meio de tudo. O sol está brilhante, não tem mais ninguém, é um penhasco, lá em baixo você pode ver o mar batendo pleno na rocha, atrás de você tem outro mar, de montanhas, é só você e Deus pra você! É seu momento, grita, grita pra mim. É o tempo de um soneto, que vai a vida inteira. Talvez a última frase. Talvez o último olhar. Está tudo bem, sinta o cafuné, não se assuste. É só ter calma, não tem sentido nem pra mim... Você é ainda mais sereno enquanto dorme. Está tudo bem. É um intensidade leve, entende? É flor desabrochando. Amanhã é um novo penhasco, e Deus de novo. E assim, por mais mil anos, quanto tempo se passou? cuida de mim? Eu estou com frio. Não sei explicar, talvez seja essa vontade de correr, e de gritar ao mesmo tempo. Me dá seu colo pra eu descansar. Isso, é assim que eu consigo dormir em paz. Quanto tempo se passou?

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Todas as histórias do mundo já foram contadas

Poxa! Eu sou do tempo do Chico sem bigode, da Rita Lee desintoxicada, eu conheci a Elis Regina morta. Não sobraram histórias pra mim. A minha desgraça já é conhecida de qualquer um. A minha mais nova poesia já é velha. Nada de novo. um monte de histórias repetidas. De vagas ideias já pensadas por outras cabeças. De lamentos já vividos por mil…
Meu coração está em frangalhos, minhas mãos tremem à possibilidade de qualquer fracasso, minha cabeça se abaixar com inacreditável facilidade, meus pés fraquejam e eu tenho cada vez mais a certeza de que eu não estou aqui para ser visto. Mas eu preciso disso. Preciso desse momento que sou só eu e a máquina. Uma solidão bem acompanhada. Partindo no meio o medo. Registrando um monte de sentimentos inexplicáveis. Tentando escrever aquilo que não pode ser apagado com meu silêncio. Daí entra a grande questão. Como falar e não ser um simples igual? Se eu me sentir um igual, talvez seja melhor pra mim, mas não consigo parar de fugir disso. É uma busca incessante. É loucura de poucos loucos. Não é igual. Mas já foram contadas, todas, todas.

Uma história sem fim

O outono está cobrindo o telhado de flores mortas. Mas ainda azuis. De longe parece um casa sem telhado, onde as nuvens não chegam. E é sempre assim, primeiro a nossa árvore vai florescendo, crescendo, acordando de um sono sem fim. O nosso jardim é por alguns momentos mais verde que os dos vizinhos, mais bonito. Ela dá a impressão que nasceu pra estar ali naquele dia, cheia de vida e de flores grandes, exalando sua beleza acalmando o nosso quintal, pronta pra ser amada. E por fim chega o outono, que serenamente vai levando a beleza da árvore pro nosso telhado pra mais um sono sem fim. A chuva demora pra vir depois disso. E o telhado continua azul por um tempo, até que aquelas flores mortas se tornem turvas, de longe parece uma casa sem telhado, onde as estrelas não alcançam. É a criatura deixando a sua marca. Ah! Toda minhas lembranças estão ligadas àquela árvore.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

O presente

Construíram um prédio na frente da minha janela. Antes era uma visão daquelas de deslumbrar os olhos. Agora são só janelas. E sempre antes de pegar no sono eu tinha a companhia da cidade inteira, das luzes mais distantes que pareciam estrelas caídas, das luzes mais próximas que não me deixavam pensar que eu estava realmente sozinho. As pessoas me falavam quando eu mudei pra essa cidade grande que aqui ou você encontra com você mesmo ou não encontra ninguém. Eu já tinha encontrado o resto da cidade enquanto ela dormia, mas agora são só janelas. Sequer a luz da lua entra no apartamento mais. Eu estou engolido, girando dentro do estômago de um bicho feito em concreto, pronto pra ser partido em moléculas, abandonado pelo vento. Aqui as pessoas não choram, aqui as janelas não passam de cortinas. Existem quinze milhões de pessoas sozinhas nesse lugar. Pessoas em suas casas, em seus trabalhos, em suas vidas criando histórias de grandes conquistas, passando por cima de túmulos. Fazendo os seus sonhos virarem realidade.
Amanhã eu me formo na faculdade, finalmente. O meu diploma já foi impresso. E será entregue a mim. Talvez eu volte pra casa e dê em um embrulho pra presente a meu pai, não sem antes dar-lhe também um tapa, de mão aberta, na cara. Deixar por pelo menos três, quatro dias, os meus dedos marcados em seu rosto. O que são três dias de marca? Um diploma na parede da sala.