domingo, 28 de dezembro de 2008

Pra você

Quanto tempo se passou sem que eu viesse aqui ao menos te dar um "oi"?
O tempo é assim, ele passa... sem nem mesmo perguntar se pode.

Aconteceu muita coisa sim, e eu não esquecia de você. Sempre tentando achar o melhor momento de te contar meus segredos... não são muitos segredos, na verdade nem segredos são, mas...

A gente nota, um bom companheiro é sempre um bom companheiro, e não é necessário que se diga tudo, você é meu bom companheiro e pronto, pra quê ficar o tempo todo falando?

Eu estava precisando por pingo em "I's". Por ponto em finais de frases, sem pensar. E você me faz pensar muito sobre tudo. Não acho que seja o melhor momento pra discutirmos a nossa relação, passamos muito sem que nos falássemos pra nos perdermos em parcas considerações, pelo menos que não seja assim em público... [eu sei que juntos somos públicos] Então que publiquemos...

Te falar isso vai parecer meio sem sentido, [faz muito sentido, faz muito sentido] mas lá vai: não gosto muito de ficar dizendo não, mas hoje estou fazendo escolhas, e escolhas se parecem com "não", escolher é dizer não a alguém [as vezes dizer "não" a mim mesmo (estranho isso, ?)]

O natal já se foi, o ano acabou de novo e está quase chegando a hora do tão esperado texto de aniversário... calafrios, eu sei, sempre muitos calafrios. Esses textos de aniversário são sempre ruins de se escrever e acho que de ler também... me desculpe por isso, não faço por mau. Eu queria mesmo era saltar alto e emanar felicidade, mas as coisas vão acontecendo e eu vou sentindo, e é assim, quando eu tento passar tudo a limpo pra você, quase nunca acaba bem, e depois de tanto tempo de boas horas perdidas/ganhadas aqui, acho que ninguém melhor que você pra me entender...

Senti saudade!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Cansei

Cansei de muita coisa, tudo de uma só vez;
Engraçado, até ontem tudo era tão normal, tudo estava em seu lugar, na estranha e suave harmonia do universo. Hoje eu fico só com a "estranha harmonia" porque cansei; não aguento mais acordar todo dia e ver as mesmas pessoas, as mesmas coisas, ver os mesmo carros parado na minha portaria, viver a mesma vida, assistir aos mesmos filmes americanos, e variando bem de vez enquando, fugindo da rotina com um europeu ou um nacional, mas que de tão comuns às fugas já não são mais fuga de nada. Cansei de ouvir Jobim, de ouvir Toquinho e, acho até mesmo que me cansei de ouvir. Cansei de ler os mesmo livros, sim os mesmo livro; que de tão iguais não vejo mais nada além de páginas brancas. Cansei de procurar, cansei de tentar, cansei de cantar... Cansei de mim, de você ou de qualquer outra pessoa. Hoje eu acordei, e quando tirei a remela do olho passou pela minha cabeça outras mil vezes que já tirei remela. Fui tomar café, e mais uma vez, mil vezes lembrei. Pois então, cansei...

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

No soluço de um momento

Eu andei pensando muito… pensar é bom, ao menos parece bom… é bom?
Uma das coisas que me fez perder um bom tempo foi “eu”… [e reticências] não é pouca coisa eu pensando sobre mim; tente você pensar em você quando puder. Aaaaf…. A….f…. Então hoje é dia de falar, e vai ser sobre mim. Falar sobre o que eu sou é difícil, não sei nem por onde começar. Falar sobre o que eu era é difícil, acho que não me lembraria das coisas mais importantes. Falar sobre o que eu serei não tem jeito… na verdade eu nem sei… enfim… quem sabe se hoje eu falasse apenas sobre o que eu quero? Acho que pelo menos isso eu consigo. É simples, somente eu sei exatamente o que eu quero. Então não haverá problema algum em dizer. E escrever é ainda mais fácil. É eu quero e mais nada além do que eu quiser. Poucas são as coisas tão simples assim… E… Eu quero… bem… então, eu quero… Eu… ahmm… pois bem…

Acho que nem isso na verdade…

Ou melhor, sim – Você sabe o que é felicidade? Eu gostaria de saber… acho que isso eu quero. Saber como é felicidade, essa palavra tão bonita. Uma vez, uma grande amiga disse que a coisa mais pura que já tinha visto era um menino se encantar com uma palavra. E se assim for, encantado eu também estou… [felicidade] …Se ela estiver nas coisas grandes, eu quero as coisas grandes, se estiver nas pequenas, então são estas as coisas que eu quero. Se a felicidade morar no “Japão”, eu me mudo pra lá, se morar em “Thar”, no “Continente Negro”, ou em qualquer outro lugar que digam, não haverá problemas, eu largo tudo e vou. Não adianta perder tempo pensando. Ou adianta, na verdade nem isso eu sei. Eu estou vivendo a lucidez do momento. E ponto. Mas voltando ao assunto, uma coisa eu sei, felicidade é bom. Se ela estiver nos filmes eu assisto todos, se for o dinheiro, não tem problema também, eu ganho… se ela vier com trabalho, se precisar correr… qualquer coisa!

Parece que não adianta perguntar! Ninguém dá resposta pra nada nesse mundo… mas pergunta? Todo mundo tem as suas e não sou diferente de ninguém. Vou ser sincero. Já fiz essas mesmas perguntas antes. Um monte de vezes. Talvez uma hora dê certo, talvez em algum momento venha uma alma grande e bondosa, mandada diretamente por Deus, pouse do meu lado, e me solte a bomba… me diga… me responda… (Deus?)
Por enquanto assim eu vou procurando mesmo

Aqui?
Aqui?
Aqui!?
Ou não?

...


Não tem um segredo, ? Nem uma chave de ouro que abre uma porta iluminada. Os que são sábios insistem em dizer que justamente isso de não ter um segredo ou uma porta é a tal bondade Dele (Deus!) …E que daqui pra frente, por um bom tempo, eu penas pense… Valham-me os sábios!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Dos devaneios de ontem

Acho que a compreensão de algumas coisas agitadas do mundo é uma questão de tempo, requer calma. Quando eu digo tempo, estou falando da vida mesmo. Vida e lentidão são coisas muito parecidas.
Hoje foi um dia duro. Manhã acinzentada, recauchutada por cinzas durante a atarde, à noite com todas as cinza em guerra com a harmonia, e somente agora, na madrugada do dia, a serenidade. Mas é assim mesmo, ? Por mais que a gente sinta raiva, é sempre na ressaca dos problemas que eles se resolvem. Temos mais é que esperar… tempo de novo… Esperar pelo tempo é das coisas mais engraçadas que já ouvi… esperar é o tempo… mas nem tudo faz sentido. Tudo no universo tem um linha de coerência, e quase nunca os homens conseguem captar as suas formas sutis. A expressão do mundo está nos pequenos detalhes. É tudo muito louco mesmo, eu sei. O mundo é gigante, gigantesco, mas sua expressão está nos pequenos detalhes, nas pequenas coincidências. As vezes é bom fechar os olhos e continuar andando, deixando o vento encher nossa cabeça de imagens, que os olhos nunca poderiam ver. Sinto vontade de rir; Rio… Nos somos apenas uma parte, um pequeno detalhe… é ridícula nossa existência. Mas existimos, e sempre quase felizes somos… quase felizes… Não há problema. Basta que a gente continue assim tentando se amar e de quase em quase, quase sempre conseguindo.
Quanto às crises…
Vivemos das crises, crescemos nas crises. Estar em conflito é abranger as coisas, é ampliar. Isso me parece tão bom.
Amplie, eu te digo, amplie… estique, os dedos, os músculos, os horizonte… pelo menos eu estou tentado.

Se de tudo por hoje continuarmos no impasse – Feche os olhos.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Repetindo palavras

Depois de muita correria, depois de grito e silêncio, depois de tudo. Dessa vez o meu olhar era externo e como todo mundo eu senti muito também, mas é melhor eu falar do que vi. Tem gente que acha que é assim: sair fazendo e pronto… [reticências na história das coisas] … Mas, enfim, depois de muito, somos apenas corpos… feitos de carne e espírito. E se a carne respira o espírito pousa. E se a carne corre o espírito engasga. Se o corpo erra o espírito paga. Eu sei que pagar faz parte do faz, mas é melhor esperar um pouco e fazer menos, ouvir mais, pagar menos, sentir mais, falar menos, olhar mais, e esse eterno jogo + - + - + - + - + - + - o equilíbrio. Somos apenas… e [reticências] não há tempo. Não há história escrita. Se alguém sair correndo e confundir o que é carne com o que é espírito, olhe, esse é o meu melhor conselho; Veja de fora! Ou sinta, mas só diga o que tiver visto e nada mais. O que se vê são corpos e não espíritos. Não?

domingo, 7 de setembro de 2008

Sobre o tempo ou feito dele (Para Fafá)

Sempre fazia quarenta graus, mas era estranho pensar que só às vezes eu sentia calor no corpo, e naquele dia já há muito tempo estava frio.
Eu sentado na cama, de banho tomado. Um cigarro aceso no cinzeiro, tenho a impressão de que esse cigarro nunca esteve em outro lugar, nunca foi fumado, nunca acabará. Os lençóis desarrumados. Você já reparou numa parede? Branca… Tem alguma coisa na luz que cria desenhos :::::: um pássaro, um círculo, o cruzeiro do sul :::::: Existem momentos [entre gente] que de repente as coisas criam vida. É como se aquela gota de água que escorre pelas costas estivesse me acariciando, me dando força, e o desenho branco na parede branca tem cor.
O chuveiro continua aberto, a porta do banheiro aberta também. A fumaça, leve, embassa o espelho, lenta, embassa a maçaneta de metal… o banho que poderia ser tomado junto foi separado. Assim sendo, porque assim sempre; o círculo, o pássaro, e o cruzeiro, ela está lá limpando o suor. E eu sentado. Os desenhos… Uma vida inteira passada no tempo de um banho e por um triz a certeza… quase tenho certeza Ainda faltava alguma coisa.
Depois de tanto tempo, de tanto desentendimento e de tanto entendimento... Só um... apenas um sorriso sem graça, de canto de boca, diz o que eu não conseguiria falar, escrever, e até mesmo constatar. Existe algo de abstrato nos olhos. O fim não sabe se anunciar, ele é devastador, chega do canto sem fazer barulho, desespera o meio da gente e acalma a nossa alma. Eu que sempre fico sonhando com os filmes, achando que a vida também pára por um momento, que o vaso de flores vermelhas ao fundo foi visto... eu que vivo, sei que coisas assim não fazem a menor diferença. E mesmo sem a poesia o que fica é a fumaça do chuveiro se confundindo com a fumaça do cigarro.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Verdade, prometo

A loucura de ser só a si próprio é apenas o medo de ser o outro, de ver como o outro, de causar a si mesmo a sensação que causas ao outro.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

"No tempo de um soneto vai a vida "

Você tentou gritar, mas teve vergonha;
Estou com vergonha, não vou gritar hoje;
(Para mim, em silêncio) E se pulasse?
Talvez assim conquistaria o longo fim.

É preciso bem mais que sangue e veias;
Mesmo sendo isso o mais frágil em mim;
É força que também se desfaz no choro
Corre, gira, girassol, e por fim morre.

Será que é sempre assim? É pergunta…
De tempos em tempos me pego pensando:
Se for sempre assim? Não terá problema?

São diferentes percepções sobre coisas;
O mundo dos homens, e seus holocaustos;
Corre, se quiser, apenas solte a voz!

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Puro suor

(A casa vazia)

Pega forte nos meus braços


Na doce poesia do vento;
O Grito que incide a tragédia

"Corre! Corre! Corre!
E tempo pra respirar;
Solta o ar! Solta o ar! "

Mas no fim, lá no fim;
Tudo acaba por esperar..

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

DV8 - um gesto

(inspirado na cena Hooping Love por DV8 physical theater
http://br.youtube.com/watch?v=yHV0CSwF25M)

O movimento segue pontual, preciso. Braços paralelos, corpo no eixo, olhar no horizonte. Ao fundo, música dançante. É na verdade uma sequência de gestos, uns oito ou nove, que vão se repetindo. São simples esses gestos, você pode fazê-los, eu que nunca me levanto também posso. Mãos na cabeça, mãos nos peito, apontando pra frente de novo paralelas...
E tempo… pouco, mas tempo
A música dançante já não está mais ao fundo, a impressão é que ela tem mais poder que o plano de fundo lhe permite. Aqueles gestos pontuais já são mais fluidos, seguem uma corrente de sensação claras aos olhos e a um sexto sentido que eu não conseguiria lhe explicar qual. Aquele corpo dançante já não é mais só um corpo, mas ainda não se expõe, não nos permite enxergar além do que ele faz.

E tempo… tempo, mais fôlego

E tempo… tempo, pras vísceras

A música é mais dançante ainda, forte, possante (obarulhoafavordovento) os gestos ainda exitem, são eles que dão a direção, mas o corpo não é mais corpo. É o belo, na frente dos meus olhos. É o poder do homem. Pulos, gritos, cores… é deslumbre. E por fim, como esperado, o reflexo cristalino que escorre pelo rosto se pode ver, ou sentir.

Se uns morrem de fome, eu morro de dor, se uns só observam, eu sinto por eles, mas eu vivo por pouco: pelo tempo, pelo fôlego, pelas vísceras, alimentando a minha essência, que eu não faço a menor idéia do que seja, talvez um sexto sentido, talvez Deus, talvez alma…

domingo, 10 de agosto de 2008

De se pensar em tempo



Há de se pensar em tempo, se for tempo demais;
O pequeno sentimento dos dedos, a fibra;
Se é espelho que seja feito d’água.

Se fosse poesia, se fosse poesia…

Não seria para Edith, e sim para Piaf, Millord;
O pequeno sentimento dos dedos, tá bom;
As vezes é só deixar o corpo pensar.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Carta para consiência

Olá, meu querido, (longa pausa)

(Música: Milord – Edith Piaf)

Eu lembro de você me dizendo dois pontos compre, meu querido vírgula compre muitos cobertores, mas não jogue fora os velhos, eles serão uma das poucas coisas que te farão sentir como na infância ponto Esse foi um dia muito forte pra mim, você na sua cama vírgula eu na cama ao lado, na minha. Você me falando coisas sobre a vida, sobre como é envelhecer, sobre o que era felicidade, você sempre falando o quanto era bonito o outro lado do mundo ponto Os meus olhos arregalados, mas eu sem entender nem uma palavra daquela nostalgia toda! As nossas longas conversas antes de dormir. Era esse o nosso contato de maior proximidade… eu sempre fui frio, sempre quis mostrar pra todo mundo o quanto era independente. Minha primeira viagem sozinho, meu trabalho, meu dinheiro, minha vida… hoje eu vejo que sobrou pouco tempo pra quem eu me importava de verdade... aí a velha infância! Eu acho que minha memória é boa o suficiente pra falar sobre qualquer dia da nossa infância velha ponto Dos nossos velhos tempos, sei lá… eu ainda moleque correndo atrás do trem que passava na porta de casa, achando que se o trem me levasse eu ia parar no outro lado do mundo, longe, longe.. você lembra disso?

(Explosão)

Foi você quem me disse que o trem ia parar tão longe assim. Puta que pariu! Assim tão longe de mim?! Nossas vidas tomaram rumos diferentes vígula eu continuei aqui, porque eu tinha que fazer isso. Eu tinha que continuar! Tudo meu estava aqui, minha vida estava aqui! Minha cabeça estava aqui vígula (longa pausa) minha coragem estava aqui. E ninguém pode contestar isso! Eu não sou como você, eu não consigo largar tudo pra trás e ir... Eu fico com as fotos. Não tem problema, eu fico com as fotos.

Eu não sei mais o que te dizer (longa pausa)…

Um grande abraço,
teu irmão


(Música inicial para respirar – Milord - Edith Piaf)


Por que você foi morrer...



(tensão)

Não importa quantas vezes eu te disse “eu te amo”. Não importa se eu não te disse “eu te amo”. Não importa se eu não te disse “eu te amo”. Não importa se eu não te disse “eu te amo”… eu só queria te dizer queria te dizer… eu te amo é tarde demais?

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Fragmentos de uma vida real

Depois de muito tempo sem se ver por um espelho ou pelo reflexo num parabrisa qualquer, ele volta ao ponto de onde partiu. A sensação de que esse ponto se tornou um deserto profundo já era de se esperar. Mas ele tem paciência, ele tem muita paciência. Por isso pára, olha de novo pra tudo como se fosse novo, os móveis velhos, os cantos empoeirados, as riscas de altura na barra da porta... um quase suspiro, pra quem olhava nos olhos dele nesse exato momento pôde perceber que os dez primeiros anos da sua vida passou em um pequeno e profundo suspiro, num deserto profundo. Estar de sapatos novos, camisa branca de linho, terno preto, e tudo que se tem a venda nesse mundo grande não faz a menor diferença, e os olhos dele choram sem que ninguém possa ver. Não há mais ninguém ali. Ele não estaria neste deserto profundo se o acaso pudesse fazê-lo reencontrar alguém.
Eu acho que isso é só um grande medo de ter a certeza de que ele nunca vai conseguir mudar o seu passado, mudar o lugar de onde veio. Ou ainda, talvez, seja o medo de que os seus o vejam assim em um deserto profundo. Ele ainda demonstra acreditar que isso tudo que se tornou tem a ver com sucesso. Mas nós que cá estamos sabemos que é ele que anda empoeirado.
-A casa amarela, o quintal grande, a cerca de madeira ao fundo... É só uma memória, sem nostalgia, está lá atrás, mas não se vai como as outras. Eu aprendi a ser gente grande, maior bem maior que o quintal. Saibam que quando eu sair daqui, eu volto pra um lugar melhor. Um lugar onde eu escolho como me sentir. O lugar do sucesso, lembrem disso! Eu escolho!
em um olhar de lágrimas tudo se desfez. Acabou. Já acabou, acabou.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Os olhos vazados de já não haver


- Independente das horas, qual é o exato momento que um dia passa a ser outro?Como eu faço pra saber se as coisas estão a minha frente, ou se estão ao meu redor? Ou talvez se elas, as coisas, e eu somos a mesma coisa?Não tem explicação, muita não se explica, mas tem hora (independente do tempo) que eu olho pra frente e não vejo nada. Parece que meu corpo é um pêndulo, que nunca consegue decidir se vai mais um passo ou se retorna pra onde veio. De onde veio?
Respiração leve, em busca de uma concentração interior. Ele vai andando em câmera lenta, um pé depois o outro, se alguém pudesse vê-lo nesse exato momento teria a impressão de ele estar a caminho de um lugar melhor. Vai aos poucos abrindo os braços e formando asas, no mesmo tempo dos passos. Dá pra ouvir Caetano ao fundo, será que ele também ouve?
- Eu ficaria a vida inteira nessa densidade. Agora eu sou denso. Tenho a certeza de que a busca pela vida é o encontro da morte. Morre em mim de minuto a minuto o que não é vida pra mim. Foi tudo um escolha, eu quero que seja assim, me dê tempo!
É impressionante como o mundo nunca vai parar pra que o próprio mundo se veja, enquanto o nosso herói está no meio de algo forte: um impulso de criação, a mãe, sonâmbula, interrompe o grito, e o meio dele, as suas vísceras, em um estacato, pára antes do precipício, ou da entrada no tal lugar melhor.
- Mãe, me dá a sua mão, confia em mim, eu estou aqui. (são sempre essas palavras automáticas de reconforto que ele diz quando ela levanta dormindo) Vamos, vamos encontrar com Morpheus… (blah blah blah)
Ele tem presente família, maravilhosa aos olhos dos outros. Sua mãe, quando acordada, preocupada em encontrar quem procura fez um plano de ligações promocionais na família, dividido em minutos aos seus e aos vizinhos, os minutos dos vizinhos, do mundo, sempre esgotam, já os dos seus nunca passa da metade. A sua criação morre antes do inicio, e mais uma vez ele tem a sensação de que é menor que os outros que criam

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Ontem com pérolas

Aqui na terra da saudade estão fazendo Carnaval. Ontem passou bailando de baiana a moça triste com o brinco de pérolas. Ele tinha certeza que estava entrando pro lugar certo, mas esse lugar certo, a terra do aqui-eu-sou-intenso-,-de-verdade, não tinha nada mais que palavras cantadas e álcool fervescente. e saiba bailarina, saiba... a tristeza sutil é a poesia dos apaixonados, o grande amor nunca acontece.

- Acontece, cá estou eu, na terra do eu-sou-feliz, tenho histórias lindas com e sem você, permeadas pela felicidade.
- Bela moça, a felicidade, com treze anos, de vestido de rendinha, sem tocar os pés no chão, sentada em frente ao piano, dedilhando o que um dia (um dia) será harmônico. [pra enxergar a beleza na ironia é preciso entendimento abstrato] Essa moça realmente acontece, na terra do eu-vejo-tudo-pela-televisão.
- As vezes se você se preocupar em fechar os olhos saberá que não existe escuro.
- Esqueça você mesmo e veja o que tem diante dos seus olhos com as pálpebras fechadas. É preto, mas não é.


Senhores, hoje eu termino o dia com o silêncio, e com a sensação do coito interrompido, porque não gozar pode ser o único modo de se obter a perspectiva do prazer perfeito.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Liberdade

A cada passo nesse rumo é como se eu estivesse a cada passo mais distanciando do seu cheiro…
De olhos fechados a gente consegue se ver…
Eu sinto saudades mil…
Aqui o tempo é lento, parece que fazem mil anos…
Aqui o tempo é curto, a cada esquina uma emoção…
Tenho medo de ser engolido por essa terra antes que você volte…
E eu tenho medo de ser tragado pelos céus antes de voltar…

terça-feira, 25 de março de 2008

A redução do tempo




O samba e a bossa lá fora,
Eu aqui dentro,
Sério, guardado.
Calmaria e lentidão.

Um estúpido ruído no meio do vento,
Atrapalhando as coisas fúnebres.

A vida é assim,
Às vezes apenas vivida.
A crosta cresce e absorve os homens sérios,
Enquanto isso o samba e a bossa.


segunda-feira, 24 de março de 2008

Dois minutos


Eu sussurrava, toques eram simples e delicados, você era cobertor quente, eu não via mais nada.
Hoje eu acordei, levantei, e no caminho do meu quarto pra sala eu vi o sol e seus reflexos, sentado à mesa eu olhei pela janela e percebi a brisa da manhã, indo tomar banho, eu vi os CDs espalhados na sala, no caminho pro trabalho eu decidi não ir trabalhar, mas fiquei andando por lugares conhecidos, eu vi a menina que andava de mão dada com sua mãe olhando pra cima, tentando enxergar as pontas dos prédios grandes, eu vi o sorveteiro limpando o nariz no avental. Eu vi dentro do carro um casal brigando e dentro de outro carro um casal se beijando, eu vi que tem uma macieira no meio da cidade, vi que o coreto da praça da liberdade mais parece hotel que coreto, eu percebi que o sol machuca os olhos se a gente olhar demais pra ele, percebi que andar estava me fazendo bem, e que minha calça vermelha não combina mais com a minha blusa azul, eu vi todo mundo indo viver, trabalhar, correr, alongar, estudar, amar, criar, morrer. Eu vi o poço e o fundo do poço, eu vi as chaminés das casas, eu vi o tempo passar, eu vi o mundo em pedaços bem pequenos, eu vi Deus me chamar, eu ouvi o barulho da motoneta velha, eu vi os destroços de uma família inteira. Eu vi as ruas, eu olhei para os passeios e para as pessoas, eu ouvi o vendedor de selos, eu caí em mil bueiros, tudo estava lá, e eu no centro de tudo, gritando, e você não me ouvia

terça-feira, 18 de março de 2008

Prólogo

Olívia – Nos tivemos bons tempos, tempos muito bons.
Casamos por amor, o amor mais arrematador que se viu, era uma explosão a cada encontro. Não havia uma só mulher solteira que não sentisse inveja. (pausa) Fomos felizes. Ainda me lembro de um dia especial, desses que tomam conta das nossas memórias: um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar. Já me sentia abraçada, sabe? E ele só me olhava. Sentia que não havia no mundo homem mais amante. Sentia como se ele fosse só meu, e era.
Eu como sempre, preparava o jantar a tempo de sua chegada, fazia parte das minhas tarefas. Ainda não consegui entender que mal há nisso, uma mulher que se preocupa em cuidar do marido. E nesse dia ele se sentou sem camisa à mesa. Eu achei aquilo um deslumbre. Um bem aos meus olhos, somente aos meus. Começamos a conversar como fazem os casados. Ele me contou um pouco sobre o seu dia, eu lhe contei alguma coisa nova sobre a novela da TV, ele me falou sobre o livro que lia, eu falei sobre a receita culinária nova, era assim quase toda noite, e quando terminávamos a sobremesa talvez um pouco de TV, talvez uma cerveja e sempre cigarros, ele e os seus cigarros. Nesse dia nada de cerveja de cigarros ou TV, ele ainda à mesa parado a minha frente em um tom de voz suave me convidou a rodar, eu, assustada com aquele convite inesperado, fui correndo ao quarto, peguei um lindo vestido azul que ele mesmo havia me dado, mas que a tempos eu não usava. Escovei os cabelos mas preferi deixá-los presos, calcei os meus sapatos de domingo e quando eu cheguei na sala ele estava lá, de pé, pronto, me esperando. Eu sempre achei isso a coisa mais romântica que se pode fazer, esperar. Demos os braços e fomos a praça. Caminhamos, conversamos, nos abraçamos e por um segundo de desfrute nos beijamos, um beijo eternizado pelo piscar das luzes de natal.
- Cuide do seu amor! É, agora eu estou falando com você. Se um dia você amar cuide bem do seu amor!

(longa pausa)

Olívia - O fim as vezes está mais perto que se pode esperar. Aquele dia da praça estava perto do fim, mais perto que eu imaginava. Fomos felizes sim, mas não somos mais. E sou do tipo que cuida, mas larga se precisar.
De jantar em jantar nossas conversas começaram a ser desinteressantes. Depois da sobremesa eu ia assistir TV e ele ia beber cerveja e fumar o seus cigarros e assim nos fizemos por um tempo, até que um telefonema mudou tudo.



O telefone toca

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Pra espantar a solidão

Olá meu querido irmão

Ah! Eu queria começar te descrevendo a saudade que sinto de você, mas acho que isso não é possível por escrito. Então vou logo aos pormenores. Hoje fiquei sabendo, enquanto, a contra gosto da mamãe, eu passeava pela ponte daqui da cidade, que Londres está linda, na ponte eu conheci um casal de franceses que estão pretendendo sair daqui o mais breve possível. Eles já moraram aí e talvez voltem. Espero que você esteja saboreando cada detalhe. Vá ao café que te indiquei, perto do Brook. Este é um lugar perfeito para os aventureiros desta cidade perdida no tempo, conflitante de histórias.
Por aqui as coisas não estão muito claras pra ninguém. As pessoas andam virando bolha, não sei bem como explicar isso, mas de repente, bolha! A cidade está ficando cada vez mais arrasada, ontem mesmo eu perguntei para o farmaceutico da esquina se isso era alguma doença ou vírus, mas ele não quis me responder, e disse ainda que ninguém pode afirmar isso com certeza. As pessoas por aqui ficam especulando apenas. Todo mundo com medo de sair para o trabalho e virar uma bolha. A TV está reduzindo os seus horários de funcionamente, e as estações de metrô não estão mais funcionando. A mamãe, você sabe como é, gastou toda nossa economia para fazer reserva de comida aqui em casa, tem caixas de alimentos não perecíveis por toda parte, está correndo um boato que fecharão os supermercados, padarias e lanchonetes. O prefeito, que pra mim não passa de um bolha, estava dizendo para as pessoas manterem a calma que em breve tudo será controlado, mas que por hora era melhor não sair de casa. E eu não aquento mais ficar olhando as paredes desse muquifo. Está me dando pânico reparar que a cidade está cada vez mais vazia. Os meus alunos não querem mais ir até a biblioteca para eu dar as aulas, então estou indo eu à casa de cada um deles, isso está acabando com meu tempo, mas pelo menos fico passeando e reecontrando pela rua os meus lugares nessa cidade.
Não se assuste, a grande notícia vem agora. O pai (desquitado) do Afran, aquele aluno que eu te apresentei, veio aqui em casa na semana passada e me pediu em casamento, formalmente. Eu não sei bem o que dizer a ele. A mamãe disse que era pra eu aceitar, talvez assim a gente saisse daqui e não correria mais o risco de virar bolha. Eu estou chegando no meu limite. Acho que a bolha não pega todo mundo, porque eu não estou seguindo nenhuma das recomendações e ainda estou ótima. Acho que esse é pior motivo pra eu aceitar esse pedido, mas o pai do Afran é um homem muito delicado, tem um jeito pra lidar com a mamãe que está me deixando assustada. Tanto é que ela é a maior impulsionadora dessa união. Ele é engenheiro, e disse que tinha um projeto pra executar em Vienna. E você sabe o quanto eu sempre sonhei em conhecer a Austria. Racionalmente tudo diz que eu tenho que guardar o meu asno e me juntar a ele, assim eu, a mamãe e até mesmo você podemos contar com melhores tempos. Mas a idéia de me casar com ele não está me deixando muito bem. Não quero que isso seja feito por medo ou por tolice.
Na verdade acho que estou presa a esse lugar. Sei que a bolha é muito ruim e pode acabar de vez com tudo, mas mesmo assim estou começando a achar que é aqui que tenho que morar, podendo até ir conhecer Vienna, mas sei que não posso sair daqui, não por agora, como já disse antes, é aqui que estão os meu cantinhos.
Essa semana ele covidou a mamãe e a mim pra jantar na casa dele, disse que mandaria um carro pra nos buscar e um carro pra nos deixar em casa. Acho que esse jantar é para eu dar minha resposta. E como eu já disse, eu ainda não faço idéia do que responder, enfim. Quando isso se resolver escreverei de novo pra você.
A mamãe chegou ao máximo de me perguntar se eu queria virar bolha. Estou com medo de ela estar ficando louca com tudo isso. Ela não pára mais em lugar nenhum, fica o dia inteiro da sala pro banheiro, do banheiro pro corredor e assim por diante. E com todas essas caixas espalhadas fica ainda mais perturbador. Queria que tivessemos mais espaço até pra que o pânico dela tenha pra onde fugir, e como ela não sai de casa de maneira nenhuma, se limita à sala, ao banheiro e ao corredor do cortiço. Tenho medo de que em algum momento que eu esteja dando minhas aulas ou que eu esteja em meus passeios aconteça alguma coisa. Se ela virar bolha eu estarei sozinha aqui.
Sei que é até injusto ficar te dizendo essas coisas, eu devia te deixar despreocupado para que possa continuar seus estudos em paz, mas como eu sei que sequer deve ler essa carta resolvi desabafar. E tem mais; não queria fazer suspense nenhum, e é bem difícil te dizer isso assim, por carta, mas a Adélia virou bolha. A tia dela disse que se você estivesse com ela ainda, talvez isso não tivesse acontecido. Eu concordo, mas foi a Adélia quem preferiu ficar. Tente não sofrer com isso. Seja feliz aí no máximo que conseguir. A Adélia se vira, pois é assim que todos estamos fazendo por aqui.
Estou lhe enviando o dinheiro que prometi, sei que não é muito, mas espero que dê pra se manter até eu enviar mais. Não sei quando vou poder fazê-lo, pois com a história das bolhas estou perdendo meus alunos, mas fique atento ao correio, enquanto eu tiver algum trabalho aqui você também será beneficiado.
Como sempre vou continuar te escrevendo, espero que algum dia você leia. Tenho saudades indescritíveis.

Com amor, com muito amor, sua querida irmã

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

De impulsos agora, é só o cigarro

Não é o medo de dizer adeus, é começar da estaca zero que me dá medo. De repente tudo de novo. Sei que ainda tenho tempo. O tempo do mundo, e o mundo ao meu redor. Mas eu não vejo mais pra que lado correm as águas. As descidas tem gosto de subida. O sal tem gosto de amargo, o chocolate perde o doce de doce em doce. É preciso sofrer pra saber como é bom o paraíso. Que seja a Terra. Que Seja a terra. Os meus cigarros não estão mais matando a minha sede. Eu que sempre fui só pulmão não consigo mais correr. Era assim que eu fazia. Um pé a frente do outro em disparo. Vem! Me abraça forte, encosta o seu coração no meu, deixa esse estalo leve nos nossos peitos entrarem em harmonia. Simplesmente peito com peito. Eu queria conseguir te dizer realmente, queria que a palavra tivesse o poder que tem o sentimento. É tudo tão forte, tão intenso. Parece que eu sou eu pra sentir. E sentir e sentir, e talvez eu um lugar longe daqui, ser, e sentir, e ser. Bem longe. Mais longe que a distância. Ponto e vírgula. As coisas tem rumo? Onde está a beleza? Eu me lembro do dia em que eu finalmente passei naquela prova. Parecia que era uma prova de vida. Se eu não estivesse dentro eu estaria fora. Mas eu estou dentro. Foi lá que eu gastei o último milímetro de força, se é que força se mede assim. Não sobrou mais nada. Aqueles cinco minutos depois do resultado é o que chamo de felicidade. É começar da estaca zero que me dá medo. O medo maior do mundo. Eu sou o mundo inteiro enquanto eu não penso em mais nada.
Sei que posso, sei que consigo, mas a custo de quê? Pra continuar acordando enquanto os outros dormem eu não quero mais. Já chega. Estrada tem fim? Eu só queria estar confiante de novo. Ainda só sinto, não sou, não sou, não sou. Só sinto. Sinto muito! Eu queria, como em filme já visto e revisto, saber o que estaria por vir, mas sou simples humano às vezes, nas outras vezes eu sempre opto por não existir. Me incomoda ler estas linhas e ver que a loucura tomou conta de mim. De repente eu sou o mundo, de repente eu não existo mais. Onde está a minha beleza? Onde está escondido o meu impulso abstrato? Agora não é mais impulso, é estado. Entender a loucura do meu coração é só em harmonia, é só peito com peito. Deus?! O senhor está aí? Olha pra mim. Agora eu estou em um daqueles momentos de existir. Veja! Eu estou criando, estou entregue ao bem. Cuida de mim? Eu sei que Você não pode andar por mim, mas cuida de mim? Eu estou seriamente precisando de cuidados, estou a ponto de pular, a ponto de me entregar ao vento, e de quanto mais alto eu conseguir. É o suicídio silencioso. Me mostra como eu posso voltar a correr. Só pulmão, só pulmão. Sem sede, sem cigarros. Não dá pra esperar mais, dá-me de volta o disparo. Me ensina como é acordar de manhã, eu cansei de ver o sol nascer. De tanto já ter feito, cheguei a conclusão que sol não nasce, apenas brinca de dar voltas ao mundo. Sol não nasce. Eu cansei de ver o sol girar. me ensina a ser forte de novo. Acredite em mim. Eu sou bom, eu estou pelo bem.
Eu sou bom, eu estou pelo bem. O tempo do mundo. O tempo do mundo, eu tenho o tempo do mundo. O tempo do mundo, e o mundo ao meu redor.. o tempo do … mundo… o tempo.. do…. O Senhor ainda está aí? Tenho a impressão que o tempo de mundo parou. Foi Você?
Como é olhar paras coisas aí de cima? É como no filme, ? Repetido, repetido, repetido… estou com sede.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Pai nosso

Ele espera, o tempo pra ele passa lento, apesar da pressa que tem no coração dele. O dinheiro que um dia teve fechou pra ele as portas do paraíso, e com o tempo se tornou o inferno a sua maior busca, e infelizmente ele confudiu o inferno com o paraíso e nunca mais parou de tentar alcançar a criação e o poder que Deus tem. Pra ele o espelho tem cores heróicas enquanto ele está parado de frente, e eu que não o vejo invertido sinto a presença constante de cores tristes. Talvez ele seja o homem mais triste que já se olhou no espelho, mas o lado bom é que ele nunca na vida, na vida, na vida, vai imaginar que na verdade aquelas cores heróicas não passam do símbolo corrosivo.
“E se Deus quiser, tudo vai dar certo”. Por ironia é essa a frase que eu mais escutei dele nos últimos cinco anos. Não, não é com Deus que ele se vai a cada despedida. Mas o meu amor é incondicional. Eu amo o meu impulso poético, eu amo a minha criação abstrata. Eu sinto a minha presença lírica. E amo a cada despedida.

"Pai nosso"

“E se Deus fosse um de nós?Apenas um preguiçoso como nós”.

Deus está em algum lugar esperando talvez. Mas também, lhe digo com toda a segurança de imenso talvez que ele é um preguiçoso.

“É o homem a praga do mundo, ele ocupa um lugar, consome todos os bens naturais desse lugar, se reproduz feito barata, e quando todo o recurso natural esgota o homem se muda pra algum lugar naturalmente mais rico”.

Deus ensinou a esperar, ele espera. Assim ô: ………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………

“ E preciso fazer silêncio pra escutar a voz de Deus”.

- Deus, espero que o silêncio da palavra escrita seja uma dádiva.

“Amém”.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Fechadura da gente

A gente tentou ser feliz um dia. Esse dia acabou, ele só tinha vinte e quatro horas. A gente canta nos cantos dos muros esperando nas filas. A gente é assim, sai cantando às vezes. A gente fica acordado até tarde, a gente gosta de ver o sol nascer. A gente toma café só se tiver dois dedinhos de café no copo. A gente não gosta de xícara. A gente tem medo de altura, mas não diz isso pra niguém, perto dos outros a gente brinca com a altura. A gente não acredita mais em Deus. A gente pede tudo enquanto descansa. A gente sente falta de bons tempos que nem a gente mesmo sabe dizer quais são. A gente tem fome o tempo todo. A gente gosta de chocolate antes do almoço, porque a gente não gosta nem um pouco de regras que não fazem sentido. A gente tem saudade do nosso imão, mas a gente não fala isso pra ele. A gente quer um pouco de carinho de um monte de gente que nem dá bola pra gente. De vez enquando, só em datas comemorativas, a gente diz pra que ama as pessoas que amam a gente. A gente erra, e erra de novo, e tenta aprender, mas a gente nunca aprende, nunca aprede nada. A gente sempre tenta chorar, mas nunca consegue, a gente acha lindo chorar, sabe? Aquelas pessoas que conseguem deitar e chorar e chorar e chorar e quando acordam estão bem melhores, a gente não chora nunca. A gente fala pra todo mundo que corre pra não chorar, mas a gente não gosta de correr, a gente fuma. A gente não conversa a sério com quase ninguém. Só uma pessoa nesse mundo inteiro sabe que eu sou a gente, porque a gente morre de medo de ser doido de verdade. E assim a gente vai levando, quando um caí o outro segura. Quando dói em um o outro morre um pouco. Quando um grita o outro escuta. Quando um não aguenta o tranco, o outro segura a barra. Um da gente adora comédia, e outro vive pelas tragédias. A gente tem sempre um plano, e falar aqui da gente faz parte desse plano.

Um dia em que o arroz e o feijão foram um deleite

Aqui faz calor, ah como aqui faz calor! Essa é a minha terra. O cheiro daqui é mais doce. A grama daqui é mais macia, o dia aqui é mais bonito. Agora eu estou de volta, sou o filho pródigo. Senti saudade do meu pai, senti falta da minha mãe. Você me entende. Se algum momento da sua vida o colo da sua mãe estava longe demais para afagar a sua dor você me entende. Mas agora cá estou eu de novo, deitada na minha cama… .. Com o meu cobertor velho. Eu lembro do papai vindo da rua cheio de sacolas. Um dia em que o arroz e o feijão foram um deleite. Sacolas com cobertores novos. Nesse tempo todo fora deu pra aprender algumas coisas, e uma delas é: compre muitos cobertores, milhões de cobertores se puder, mas nunca jogue fora os que participaram da sua infância, você vai se lembrar deles. Esse cobertor, que agora mais parece pano de chão, era branco de bolinhas azuis, lindo. Ainda quando pequena, talvez dez, talvez nove, eu de mão dada com a mamãe, desviando o caminha da escola sem nenhum motivo real, vi uma boneca numa vitrine com um vestido exatamente da mesma estampa desse cobertor. E acho que não posso referir à minha vida cena mais prazerosa. Aquela era a boneca mais linda que já havia visto. Não haveria criança menina que não concordasse comigo. Daquele dia em diante, eu fiz a mamãe desviar o caminho pra escola todos os dias, só pra que passássemos na frente da mesma loja. De noite antes de dormir eu pegava esse cobertor que está me cobrindo agora - Como eu senti a sua falta! - que ainda não tinha essa cara de velhinho, e brincava, contava histórias, segura assim, como se fosse a minha criança. E era o suficiente. Se lá naquele tempo distante me perguntassem, eu diria que queria sim aquela boneca de vestido de bolinhas, mas agora eu acho que não, eu nunca quis realmente. Imaginar que eu a tinha era o suficiente. Era o suficiente. A vida foi passando e eu perdi o rumo, quando eu olhei minha mamãe não tinha mais colo. Aprendi a dar boa noite de verdade à porteiros. Eles são boa companhia. Aprendi que sonhar é dormir, e que sendo assim, o sonho americano é nada mais que um longo período de sono. Uma pausa na vida. É como se apertasse a tecla mute, em tudo. O silêncio das noites me fez ouvir pra dentro, me fez ouvir que a palavra “sufiente” tem significado, e mais, que tem um significado lindo. Acho que na verdade passei esses anos todos procurando esse cobertor de bolinhas azuis. Achei que podia encontrá-lo em baixo da neve, a minha única boneca.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

O Japão acorda comigo

Dessa vez não tem música nenhuma tocando ao fundo, inspirando meu choro. É o silêncio, um cigarro aceso, o ambiente à meia luz, o relógio no esterno tic-tac. Sou eu e a tela, eu e o texto. O dia não parou, as pessoas estão dormindo agora. Elas trabalharam, estudaram, correram, transaram, morreram… As pessoas almoçaram em restaurantes chique hoje, elas também não almoçaram, elas resolveram problemas de casa, elas procuraram novas casas, elas compraram tijolos, elas… elas foram a missa, olharam a hora, mas não escutaram o tic-tac, - . - . - . - . - . - . - . - . - . - … esse é meu! Os heróis salvaram o mundo de novo, e eu: - . - . - . - . - . - . - . - . - . - . - . - . - … eu ainda respiro, e acho que vou continuar fazendo isso por um bom tempo. Daqui a pouco eu vou ligar a televisão na esperança de ver um bom filme. Já faz muito é essa a minha grade esperança. O tempo (- . - . - . - . -) me ensinou que “grandes esperanças” nunca poderam ser muito maior que as pequenas. Plantar firme os pés no chão evita grandes quedas. Mas enfim, hoje eu vim aqui por um motivo bem simples, caro leitor. Vim aqui pra contar que de vez em quando eu gosto de olhar pro verde das árvores mais vivas, e se eu pudesse te dizer só uma única coisa, eu diria: olhe paras árvores quando tiver algum tempo, elas estão lá e de lá não vão sair. Não precisa ter pressa. Eles são grandes e pra isso precisam somente do sol e de um pouco d’água. As árvores ensinam mais que qualquer um pode imaginar. Elas têm a paciência dos lentos, elas têm a beleza de Deus. Ah! Se Deus fosse um de nós. Talvez seriamos verdes.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Serenata de verdade

Os olhos voltados pra dentro. Assim por dizer um contorcionismo ótico. Noite que desce até o meu quarto, guardando a surpresa de hoje, noite firme de estrelas cadentes que emudecem pensamentos que não sejam desejos. Eu canto e nem faço ideia do que, simplesmente canto em uma espera sem fim que havia muito tempo fazia parte de mim. É hoje, a grande noite, é sempre a última. Eu não te minto: me conforto em ser sozinha, há uma doce luz no silêncio. Conforto não tem nada a ver com felicidade. Nem precisa me dizer, eu sei que felicidade é palavra grande demais, maior que o céu que cobre o mundo todo. Mas as estrelas hoje resolveram me dizer que elas podem cortar o céu o quanto quiserem. Céu grande demais às vezes. Aprendi com o tempo que a dor tem muito a ver com céu. Virei uma formiguinha no exato momento que me deitei hoje nessa cama esperando, esperando… sempre soube que pensamento nunca foi verdade, sempre soube que olhar pra dentro é estar de olhos fechados pro mundo grande. E sempre. Duas horas da manhã, mas ainda é noite, é a madrugada da gente. Duas e quinze da manhã, mas ainda é noite, é a madrugada da gente. Acordar é só depois que se consegue dormir. É longe que eu sinto prazer. E dia nunca acaba até que o gosto de sono desperte o dia. Duas e meia da manhã é espera demais, os olhos se fecham, e não para apenas olhar pra dentro, pra me entregar aos sonhos. Aprendi a ser dócil nos sonhos, pois são eles a minha única realidade, quanto aos meus olhos estão fechados, eu estou vivendo, sem a divindade, sem a felicidade, sem a tristeza, sem o silêncio, sem som nenhum também, sem a luz, simplesmente a realidade. A minha serenata em valsas leves, levitando a abordo de um barco com asas pra única realidade. O meu ponto chave. O lugar onde palavra é grande, e céu é maior ainda, a única serenata que me é permitida. Felicidade não existe mais. Boa noite pra você. Ser dócil no sonho.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

“Feliz aniversário, meu caro!” diria meu irmão, se ele estivesse aqui comigo, mas ele está tão perto do gelo que talvez, se ele tiver dito, a frase tenha se congelado no caminho. Mesmo assim, meu caro irmão, eu digo - não há gelo que congele - mas essa frase também não chegará a lugar algum. Mas enfim não é por falta de cumprimentos que não faço aniversário. Mas mesmo assim por que não eu mesmo não me digo? - Feliz aniversário, meu caro! - É só mais um passo. São mais velas apagadas, mais tempo apagado, já vivido.
Dessa vez foram poucas pessoas em uma mesa de bar reunidas em bebedeiras e sorrisos, e de novo - Felicidades, amigo! Janeiro tem cara de reveillon, tempo de renovação, de paz, de boas novas. Exatamente como nas dezoito outras datas felizes infelizes que eu já soprei. E sempre eu volto aqui, ao mesmo texto, as mesmas palavras. Com sorte dessa vez dê tudo certo realmente. Talvez eu me forme, talvez eu me rematricule, talvez eu seja aprovado, talvez eu me encontre. Mas continuo com a impressão que vou continuar vagando pelas esquinas do tempo, passando por pessoas novas, passando por lugares novos, passando por novos momentos, quem sabe o meu verdadeiro eu esteja escondido numa esquina, logo depois de uma curva sem destino. De repente a glória de uma conquista. Aí o pessimismo morre e leva com ele esse vazio de alma. Quem dera fosse apenas dinheiro. Quem dera fosse apenas meu pai. Quem dera fosse apenas a maldita aprovação! Eu olho bem de longe, e bem de perto. Vejo que é apenas eu. E aí “apenas” não serve mais. É eu e não tem “apenas” nisso. Eu sou o meu maior problema. Ainda vou poder deitar numa cama e dormir sem chorar. E essa é a única frase que não faz parte do meu pessimismo, a única. Sempre, a cada virada de ano, a cada aniversário eu a repito, e pouco antes de dormir choro. Aos meus amigos: que mil dias sejam hoje! Ao meu amor: que o nosso tempo não pare! À lucy: sempre! Ao meu pai: que Deus esteja ao seu lado! E a mim: você tem o que merece, nem mais nem menos. Feliz aniversário, meu caro.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O vício

Em linhas tortas. E de repente eu...
Longe, muito longe... Acalmado pelo cheiro do campo. Um lugar onde sol nasce primeiro, onde sol nasce mais quente. Terra de gente fina. Terra de gente humilde. Longe, muito longe... de mim. E de repente eu... Parado aqui eu me pego pensando, onde está meu ardido de asfalto? É sempre lá que eu ganho o derradeiro beijo. Respiração, concentração, ar fresco da geladeira do vizinho. Carne quente no bar da esquina, um livro azul pra descansar do descanso, um lugar onde o sol anda menos depressa! O cacarejar da galinha é ótimo despertador natural, galinha que cinco dias antes eu estaria implorando que a enforcassem e queimassem em brasa... mas enfim... Uma mesa, com bolo e café, leite quente, cabaça com água, um papo leve, leve de papo. Nostalgia é só palavras, só palavra, sem toque, sem tato. De repente é tudo infância. Pé no chão, moleque na rua, o pudim esfriando na janela, enchendo de água na boca da gente. E no meio da rua também de repente, pelas linhas desativadas, o trem que passa levando o mundo todo naqueles vagões intermináveis, por onde vagava (perdão pelo trocadilho) as mais doces fantasias de criança, menino pequeno correndo atrás nos trilhos, gastando todo combustível de homem em impulsos inúteis pra pegar o mundo todo dentro daquela monte de ferro andante. Nostalgia é palavra que não serve pra nada, fantasia pra mim, fansatasia pra ti!
Um cigarro depois do café, um golpe nas lembranças enchendo de fumaça o piar dos pássaros selvagens. E a triste lembrança de uma estrada inteira pela frente, lembrança essa que parece vir do passado sem que ainda nem perto esteja de presente. De novo mais um trago, de novo mais um pássaro, a paisagem verde, a rede parada, sem ninguém, sem nenhum balanço, a espera de mais um descanso. O último trago, e fumaça, fumaça, fumaça, e fumaça e cidade grande com toda fumaça. E fumaça.