sexta-feira, 4 de julho de 2008

Fragmentos de uma vida real

Depois de muito tempo sem se ver por um espelho ou pelo reflexo num parabrisa qualquer, ele volta ao ponto de onde partiu. A sensação de que esse ponto se tornou um deserto profundo já era de se esperar. Mas ele tem paciência, ele tem muita paciência. Por isso pára, olha de novo pra tudo como se fosse novo, os móveis velhos, os cantos empoeirados, as riscas de altura na barra da porta... um quase suspiro, pra quem olhava nos olhos dele nesse exato momento pôde perceber que os dez primeiros anos da sua vida passou em um pequeno e profundo suspiro, num deserto profundo. Estar de sapatos novos, camisa branca de linho, terno preto, e tudo que se tem a venda nesse mundo grande não faz a menor diferença, e os olhos dele choram sem que ninguém possa ver. Não há mais ninguém ali. Ele não estaria neste deserto profundo se o acaso pudesse fazê-lo reencontrar alguém.
Eu acho que isso é só um grande medo de ter a certeza de que ele nunca vai conseguir mudar o seu passado, mudar o lugar de onde veio. Ou ainda, talvez, seja o medo de que os seus o vejam assim em um deserto profundo. Ele ainda demonstra acreditar que isso tudo que se tornou tem a ver com sucesso. Mas nós que cá estamos sabemos que é ele que anda empoeirado.
-A casa amarela, o quintal grande, a cerca de madeira ao fundo... É só uma memória, sem nostalgia, está lá atrás, mas não se vai como as outras. Eu aprendi a ser gente grande, maior bem maior que o quintal. Saibam que quando eu sair daqui, eu volto pra um lugar melhor. Um lugar onde eu escolho como me sentir. O lugar do sucesso, lembrem disso! Eu escolho!
em um olhar de lágrimas tudo se desfez. Acabou. Já acabou, acabou.

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