terça-feira, 21 de abril de 2009

Sobre vocês da ordem

Eu estou pensando em colocar as coisas nos seus devidos lugares [é que por aqui, por mais que pareça ordenado, está tudo uma bagunça]. É apenas um pensamento por enquanto, mas mesmo assim acredito. Porque sem essa minha crença banal, imaculada, eu tenho certeza que nada aconteceria, que sempre tudo continuaria no mesmo qualquer lugar até que em algum momento eu pensasse em colar as coisas em seus devidos lugares e um tempo depois eu realmente organizasse tudo. Assim pelo menos eu tenho a sensação de que daqui pra frente existe, bem longe, uma possibilidade de ordenação. É preciso que se organize, pra que a gente não perca mais tempo procurando as coisas. Enquanto eu fico procurando o botão perdido da camisa eu poderia estar fazendo outra coisa. Enquanto eu fico procurando a chupeta da criança eu poderia estar fazendo outra coisa. Não sei bem o que eu poderia estar fazendo, mas ao menos poderia; do jeito que está eu não faço mais nada além de procurar, nessa desordem contínua, retroalimentativa. Essa bagunça na sala, no quarto, na cozinha, no banheiro, na casa, essa bagunça de gente, pra gente, bagunça na gente, na vida.

- Eu imagino que as pessoas bem sucedidas sabiam precisamente o lugar de cada coisa necessária pra subir na vida, daí elas subiam em vez de procurar, entende?

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Aqui e ali

Há desilusão em tudo... por Deus!
Acabou-se a calma do mundo. Eu,
um homem acostumado aos festivais
desisti de ser criança.

e tristeza

quinta-feira, 9 de abril de 2009

E assim se passarão duzentos anos

Parte sem mim, sabendo que o que você deixou pra trás é bem mais que uma simples história. Parte sem mim, com a certeza de que não há como se perpetuar o contrário do que perpetuado estava. Parte sem mim, mas não vá tão longe assim, pois o tempo e o vento já são abstinências pra essa minha alma viciada. Parte sem mim, para um lugar melhor, ou ao menos um lugar mais calmo. Que eu não aguento mais as agruras dessa cidade cinzenta e gelada. Parte sem mim, e saiba que contigo eu irei, pois comigo você ficará. Parte, vá logo. Não se despeça; deixa o fim ser mais rápido que o começo, deixa a morte do nosso toque ser subta… deixa tudo, não leve nada material. Parta daqui sem tristezas eloquentes, pois a eloquência é corrosiva a esse sentimento que em si é tão profundo. Se se sentir triste por um momento que seja, é porque se encontrou sozinho com você. Parte, parte de mim.

terça-feira, 7 de abril de 2009

O encontro

A chuva chovia forte, era noite, e não tem problema. Ele já havia esperado o dia inteiro por aquela hora, e chovia. Não seria a chuva que o iria calar. Logo depois do almoço ele já estava pronto, mas somente sairia de noite. É que tem coisa que a gente não consegue simplesmente esperar. Talvez tenha passado pela cabeça dele que se arrumando tão cedo, seria como se ele proseasse com Deus, pedindo que o tempo passe bem mais rápido que o de costume. Vestia um terno marrom, uma calça marrom e um tênis pra corrida, alguma força maior disse que ele deveria calçar tênis e não sapatos, pois agora ele estava correndo. Tinha na mão direita um cigarro apagado pela água, e na mão esquerda ele não tinha nada. Mesmo com toda ânsia, ele decidiu chegar lá, assim, sem nada. Os seus óculos estavam molhados e ele não enxergava nada também, apenas corria. Ele não pensava em nada, apenas corria… “- será que quando eu chegar eu sorrio? E se não for o suficiente?”. Mil, talvez mais, os pensamentos desde o dia anterior não paravam de corroer a sua sanidade. Ele que sempre manteve as regras, nunca esquecia o guarda-chuvas em casa; e lá estava ele molhado pela chuva. Possivelmente sequer percebeu a chuva que logo pela manhã já se anunciava.
Ele tivera no horário de pico do dia anterior um encontro desses de alma, que é quando está predestinado que duas vidas vão se encontrar e que nada poderá ser mais forte que este encontro. Um encontro aparentemente corriqueiro, desses que sempre se tem com um monte de gente que a gente não faz e nem nunca fará a menor ideia de quem seja, pessoas que vão se tornando figurantes da nossa história, figurantes sem nome, sem cheiro, sem fala. São simples linhas de vida paralelas a nossa. Mas com os dois não poderia ser assim. Primeiro eles trocaram olhares, depois, porque um tinha ficado sem graça, ou porque o outro já havia decido fazer alguma coisa a respeito, eles se cumprimentaram; um olá tímido, à distância. Mas ainda não era o suficiente. E em meio a todos, despreocupados com o que as pessoas iriam pensar surgiu ainda à distância um subto“– como se chama?”, um pouco mais de tempo e nada os impediria falar sobre o tempo que andava chuvoso, ou falar sobre a moça, caixa do supermercado, que atendia a fila entre a deles, trabalhava muito mais rápido que os outros…
Entre silêncios eloquentes e resposta singelas não havia a dúvida que era um encontro que não tinham mais o direito de deixar que se tornassem um para o outro o que qualquer pessoa que se encontra na fila se torna, um simples figurante. E assim, tendo ido embora sem planos, ou ao menos sem terem trocado telefones, a única coisa que ele sabia era que o outro, ainda estranho, morava no terceiro prédio, da avenida principal da cidade, e que estaria em casa depois do trabalho que iria até as oito da noite.
Sentindo que não poderia deixar que isso se perdesse no tempo ou no espaço, agora estava ele correndo, e sorrindo, em baixo da chuva, passando pele vigésimo terceiro prédio da avenida principal. É possível ver daqui o que já estava concebido. Uma longa história de linhas entrelaçadas; quando de repente, inesperadamente, como um tapa de Deus; o caminhão de lixo, grande, forte e potente, exatamente entre o vigésimo segundo e vigésimo primeiro prédio da avenida principal da cidade, inrrompeu à traço forte, um encontro corte na linha, deixando um desenho imcompleto no marco zero do tempo... e enquanto o outro esperava, com a forte sensação de que ainda esta noite ele iria de novo se reencontrar com aquele que já não era mais um estranho, um caminhão de lixo pôs assim, um ponto final nessa história sem fim.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

O surto

As pessoas andam virando bolha, assim sem mais nem menos, de repente bolha! Sei que em breve fecha-se-rão os cinemas, as bibliotecas, praças e tudo mais que tiver portas. Ninguém sabe como isso acontece, se é contagioso, se é vírus ou se não é nada. Estou começando a ficar assustado. Tem muito tempo que está acontecendo e não se fala nada a respeito, ainda sequer é notícia. - Grita pra ver se alguém escuta! Me sinto pequeno, na ordinária condição de homem comum. A bolha não pensa raça, credo, nacionalidade ou status, ela simplesmente pega. De repente bolha! Não há remédios ou solução. Nada se pode fazer senão, complacentemente, tornar-se. E em meio a tudo isso, o estranho é que quando fecho os olhos, tudo que me vem é a imagem de um longo pinheiro, grande, por tocar o céu, sereno e profundo... – Grita pra ver se alguém escuta!