sexta-feira, 26 de março de 2010

Conclusão de coisa alguma

Usamos palavras de mais. Por mais que o que se via eram somente os gestos. Falamos, falamos, falamos. Pouco parou pra escutar, não é assim que funciona. Nos pusemos à mostra. Sentamos na vitrine. Expostos. Talvez seria esse o melhor momento para o trabalho dos nossos ouvidos, mas não. Não é permitido. O combinado implícito é justamente o oposto, se ponha às ofertas e fale sem parar, somente assim o acreditam... É a loucura daquilo que não para, do que não pensa. Estar vivo e vivendo é cheio de consequências, as vezes idiotas. Cheio de surdez e de grito… por outro lado. Depois de tanto, fomos vistos. Até mais que isso: fomos apreciados. Aplaudidos. Nos disseram que fomos bravos, que pisamos em terra firme mesmo sem ver que estávamos andando.

Obrigado.

Mas depois do movimento, da fúria, do tumulto, eu apenas me pergunto: pra que tanto?

quinta-feira, 11 de março de 2010

Só mais um segundo

Com o papel todo gotejado de sangue e lágrima eu continuo a carta. Tudo que havia de importante a ser dito está no precede o que estou escrevendo. Agora vou me prender ao desnecessário, ao dispensável. [Talvez se antes, se bem antes o desnecessário tivesse sido escutado, não estaria ele sendo escrito]. Hoje mais cedo eu pus música alta pra chorar e ver se encolhia. Eu lembro como se fosse ontem você me falando “chora muito não se não encolhe, a lágrima que te cai acaba por te faltar”. Talvez se eu fosse bem menor do que sou, se fosse apenas um décimo, então teria também apenas um décimo desse calor vazio que me aperta o peito nesse momento. E por falar em momento, por que a gente deixou passar os nossos momentos? Momento é coisa que só se consegue contar em segundos. que passa rápido demais. Que mesmo quando vivido intensamente não é capturado. Não é manipulado. Nós deixamos os nossos passar. Eles eram bobos demais pra gente. Talvez então, o nosso fim seja contado nesses mesmos segundos perdidos. Ah, meu amor! Ninguém esperava que algo de volume tão pequeno pudesse fazer tamanha diferença nos caminhos escolha. Esse pequenos ensejos de vida eram a nossa cumplicidade. Era nos olhares que éramos irmãos de crime, detentores do segredo. Apesar da aparente desimportância dos nossos quase insignificantes momentos, são eles os que eu sinto que mais vão me amargar.

Faltamos com nós mesmos. Preocupados em sermos maduros, envelhecemos quinze anos em cinco. Deixamos de lado o que era apenas divertido. É da natureza das coisas que agora estejamos sendo penalizados por isso. Uma espécie de justiça divina o nosso martírio. As coisas não mudam assim tão de repente, ainda hoje eu olho pra você e me enxergo humanamente melhor, mas me parece que tudo isso não vale mais. E talvez não valha também sequer mais uma palavra.

Meta-metade

Voltei. Mas vim de vinda passageira. Não sei bem a que deve esse retorno inesperado. Talvez apenas para explicar a minha ausência delongada, que ainda não conheceu o seu final. Tanta coisa aconteceu, tanta. Trechos, palavras, pedaços, retalhos, uma frase que me vinha, que me parecia certa, forte. E ainda assim eu a esquecia, sem utilizá-la em absolutamente nada, sem desenvolvê-la, sem acreditá-la. Certos impulsos criativos não devem ser respeitados. São mais felizes se mortos. Alguns outros apenas não valem o esforço. Mas alguns poucos, que não necessariamente são os maiores ou os mais geniais, poucos mesmo, devem ser escutados, devem ser respondidos, devem ser abraçados. Eles são a vida de um momento. É o que eu gosto de chamar de momentovida. São fortes por sua natureza. Tem em sua essência uma necessidade de continuação, de atenção. São como um coração recém nascido que bate agudo e desesperado em milhões de pontadas por segundo, sem saber se ao final de um pulso haverá o outro. Ou são como um velho coração que não se impõe, mas que bate forte e ganha seu espaço pelo tempo de espera e pela experiência de saber bater. Não há paradoxo que os explique. Estes momentovida são, portanto, incomensuráveis, quase indecritíveis.

Esses impulsos me faltaram. Ainda me faltam. E assim vai se seguindo o meu silêncio, a minha desistência... Aos que já se habituaram à minha constância, desculpa. Aos que ainda se habituarão, desculpa.