terça-feira, 27 de maio de 2008

Os olhos vazados de já não haver


- Independente das horas, qual é o exato momento que um dia passa a ser outro?Como eu faço pra saber se as coisas estão a minha frente, ou se estão ao meu redor? Ou talvez se elas, as coisas, e eu somos a mesma coisa?Não tem explicação, muita não se explica, mas tem hora (independente do tempo) que eu olho pra frente e não vejo nada. Parece que meu corpo é um pêndulo, que nunca consegue decidir se vai mais um passo ou se retorna pra onde veio. De onde veio?
Respiração leve, em busca de uma concentração interior. Ele vai andando em câmera lenta, um pé depois o outro, se alguém pudesse vê-lo nesse exato momento teria a impressão de ele estar a caminho de um lugar melhor. Vai aos poucos abrindo os braços e formando asas, no mesmo tempo dos passos. Dá pra ouvir Caetano ao fundo, será que ele também ouve?
- Eu ficaria a vida inteira nessa densidade. Agora eu sou denso. Tenho a certeza de que a busca pela vida é o encontro da morte. Morre em mim de minuto a minuto o que não é vida pra mim. Foi tudo um escolha, eu quero que seja assim, me dê tempo!
É impressionante como o mundo nunca vai parar pra que o próprio mundo se veja, enquanto o nosso herói está no meio de algo forte: um impulso de criação, a mãe, sonâmbula, interrompe o grito, e o meio dele, as suas vísceras, em um estacato, pára antes do precipício, ou da entrada no tal lugar melhor.
- Mãe, me dá a sua mão, confia em mim, eu estou aqui. (são sempre essas palavras automáticas de reconforto que ele diz quando ela levanta dormindo) Vamos, vamos encontrar com Morpheus… (blah blah blah)
Ele tem presente família, maravilhosa aos olhos dos outros. Sua mãe, quando acordada, preocupada em encontrar quem procura fez um plano de ligações promocionais na família, dividido em minutos aos seus e aos vizinhos, os minutos dos vizinhos, do mundo, sempre esgotam, já os dos seus nunca passa da metade. A sua criação morre antes do inicio, e mais uma vez ele tem a sensação de que é menor que os outros que criam

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Ontem com pérolas

Aqui na terra da saudade estão fazendo Carnaval. Ontem passou bailando de baiana a moça triste com o brinco de pérolas. Ele tinha certeza que estava entrando pro lugar certo, mas esse lugar certo, a terra do aqui-eu-sou-intenso-,-de-verdade, não tinha nada mais que palavras cantadas e álcool fervescente. e saiba bailarina, saiba... a tristeza sutil é a poesia dos apaixonados, o grande amor nunca acontece.

- Acontece, cá estou eu, na terra do eu-sou-feliz, tenho histórias lindas com e sem você, permeadas pela felicidade.
- Bela moça, a felicidade, com treze anos, de vestido de rendinha, sem tocar os pés no chão, sentada em frente ao piano, dedilhando o que um dia (um dia) será harmônico. [pra enxergar a beleza na ironia é preciso entendimento abstrato] Essa moça realmente acontece, na terra do eu-vejo-tudo-pela-televisão.
- As vezes se você se preocupar em fechar os olhos saberá que não existe escuro.
- Esqueça você mesmo e veja o que tem diante dos seus olhos com as pálpebras fechadas. É preto, mas não é.


Senhores, hoje eu termino o dia com o silêncio, e com a sensação do coito interrompido, porque não gozar pode ser o único modo de se obter a perspectiva do prazer perfeito.