quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O vício

Em linhas tortas. E de repente eu...
Longe, muito longe... Acalmado pelo cheiro do campo. Um lugar onde sol nasce primeiro, onde sol nasce mais quente. Terra de gente fina. Terra de gente humilde. Longe, muito longe... de mim. E de repente eu... Parado aqui eu me pego pensando, onde está meu ardido de asfalto? É sempre lá que eu ganho o derradeiro beijo. Respiração, concentração, ar fresco da geladeira do vizinho. Carne quente no bar da esquina, um livro azul pra descansar do descanso, um lugar onde o sol anda menos depressa! O cacarejar da galinha é ótimo despertador natural, galinha que cinco dias antes eu estaria implorando que a enforcassem e queimassem em brasa... mas enfim... Uma mesa, com bolo e café, leite quente, cabaça com água, um papo leve, leve de papo. Nostalgia é só palavras, só palavra, sem toque, sem tato. De repente é tudo infância. Pé no chão, moleque na rua, o pudim esfriando na janela, enchendo de água na boca da gente. E no meio da rua também de repente, pelas linhas desativadas, o trem que passa levando o mundo todo naqueles vagões intermináveis, por onde vagava (perdão pelo trocadilho) as mais doces fantasias de criança, menino pequeno correndo atrás nos trilhos, gastando todo combustível de homem em impulsos inúteis pra pegar o mundo todo dentro daquela monte de ferro andante. Nostalgia é palavra que não serve pra nada, fantasia pra mim, fansatasia pra ti!
Um cigarro depois do café, um golpe nas lembranças enchendo de fumaça o piar dos pássaros selvagens. E a triste lembrança de uma estrada inteira pela frente, lembrança essa que parece vir do passado sem que ainda nem perto esteja de presente. De novo mais um trago, de novo mais um pássaro, a paisagem verde, a rede parada, sem ninguém, sem nenhum balanço, a espera de mais um descanso. O último trago, e fumaça, fumaça, fumaça, e fumaça e cidade grande com toda fumaça. E fumaça.

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