terça-feira, 18 de março de 2008

Prólogo

Olívia – Nos tivemos bons tempos, tempos muito bons.
Casamos por amor, o amor mais arrematador que se viu, era uma explosão a cada encontro. Não havia uma só mulher solteira que não sentisse inveja. (pausa) Fomos felizes. Ainda me lembro de um dia especial, desses que tomam conta das nossas memórias: um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar. Já me sentia abraçada, sabe? E ele só me olhava. Sentia que não havia no mundo homem mais amante. Sentia como se ele fosse só meu, e era.
Eu como sempre, preparava o jantar a tempo de sua chegada, fazia parte das minhas tarefas. Ainda não consegui entender que mal há nisso, uma mulher que se preocupa em cuidar do marido. E nesse dia ele se sentou sem camisa à mesa. Eu achei aquilo um deslumbre. Um bem aos meus olhos, somente aos meus. Começamos a conversar como fazem os casados. Ele me contou um pouco sobre o seu dia, eu lhe contei alguma coisa nova sobre a novela da TV, ele me falou sobre o livro que lia, eu falei sobre a receita culinária nova, era assim quase toda noite, e quando terminávamos a sobremesa talvez um pouco de TV, talvez uma cerveja e sempre cigarros, ele e os seus cigarros. Nesse dia nada de cerveja de cigarros ou TV, ele ainda à mesa parado a minha frente em um tom de voz suave me convidou a rodar, eu, assustada com aquele convite inesperado, fui correndo ao quarto, peguei um lindo vestido azul que ele mesmo havia me dado, mas que a tempos eu não usava. Escovei os cabelos mas preferi deixá-los presos, calcei os meus sapatos de domingo e quando eu cheguei na sala ele estava lá, de pé, pronto, me esperando. Eu sempre achei isso a coisa mais romântica que se pode fazer, esperar. Demos os braços e fomos a praça. Caminhamos, conversamos, nos abraçamos e por um segundo de desfrute nos beijamos, um beijo eternizado pelo piscar das luzes de natal.
- Cuide do seu amor! É, agora eu estou falando com você. Se um dia você amar cuide bem do seu amor!

(longa pausa)

Olívia - O fim as vezes está mais perto que se pode esperar. Aquele dia da praça estava perto do fim, mais perto que eu imaginava. Fomos felizes sim, mas não somos mais. E sou do tipo que cuida, mas larga se precisar.
De jantar em jantar nossas conversas começaram a ser desinteressantes. Depois da sobremesa eu ia assistir TV e ele ia beber cerveja e fumar o seus cigarros e assim nos fizemos por um tempo, até que um telefonema mudou tudo.



O telefone toca

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