quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Fechadura da gente

A gente tentou ser feliz um dia. Esse dia acabou, ele só tinha vinte e quatro horas. A gente canta nos cantos dos muros esperando nas filas. A gente é assim, sai cantando às vezes. A gente fica acordado até tarde, a gente gosta de ver o sol nascer. A gente toma café só se tiver dois dedinhos de café no copo. A gente não gosta de xícara. A gente tem medo de altura, mas não diz isso pra niguém, perto dos outros a gente brinca com a altura. A gente não acredita mais em Deus. A gente pede tudo enquanto descansa. A gente sente falta de bons tempos que nem a gente mesmo sabe dizer quais são. A gente tem fome o tempo todo. A gente gosta de chocolate antes do almoço, porque a gente não gosta nem um pouco de regras que não fazem sentido. A gente tem saudade do nosso imão, mas a gente não fala isso pra ele. A gente quer um pouco de carinho de um monte de gente que nem dá bola pra gente. De vez enquando, só em datas comemorativas, a gente diz pra que ama as pessoas que amam a gente. A gente erra, e erra de novo, e tenta aprender, mas a gente nunca aprende, nunca aprede nada. A gente sempre tenta chorar, mas nunca consegue, a gente acha lindo chorar, sabe? Aquelas pessoas que conseguem deitar e chorar e chorar e chorar e quando acordam estão bem melhores, a gente não chora nunca. A gente fala pra todo mundo que corre pra não chorar, mas a gente não gosta de correr, a gente fuma. A gente não conversa a sério com quase ninguém. Só uma pessoa nesse mundo inteiro sabe que eu sou a gente, porque a gente morre de medo de ser doido de verdade. E assim a gente vai levando, quando um caí o outro segura. Quando dói em um o outro morre um pouco. Quando um grita o outro escuta. Quando um não aguenta o tranco, o outro segura a barra. Um da gente adora comédia, e outro vive pelas tragédias. A gente tem sempre um plano, e falar aqui da gente faz parte desse plano.

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