segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Cinzas de Deus

Em um maravilhoso amanhecer de janeiro, extraordinariamente cálido, ele acordou às sete, como de costume. Sempre mantinha-se até as sete e quinze emaranhado aos lençóis, mas especialmente nesse dia, ele demorou um pouco mais quando reparou pela janela como o sol nascia com mais vida que o habitual. Sentia-se bem e despreocupado, contudo, seguiu com seu cotidiano, tomou um banho quente, se olhou no espelho e fez sua barba. Deu bom dia à esposa, acordou os filhos para escola e sentou-se à mesa. Comeu a maçã sempre separada para o desjejum, voltou ao quarto, escolheu o seu terno do dia, beijou a esposa, calçou os sapatos e seguiu viagem. É sempre assim, a mesma rotina, os mesmos horários, o mesmo beijo. A caminho da estação de metrô ao ver um homem de meia idade correndo em volta à lagoa na vizinhança, percebeu que era engraçado ter que usar terno mesmo no verão. Logo se desfez dos pensamentos e andou mais rápido. Ele mora a oito quadras da estação, mas prefere pegar a condução a procurar estacionamento no centro da cidade. Nesse dia alguma coisa tinha saído do seu lugar, ainda a meia quadra da estação, viu o metrô chegando, abrindo as portas e partindo sem ele. Tudo fazia parte de um cálculo preciso, ele em qualquer outro dia estaria naquele trem. Sabia que se atrasaria. Minutos depois ele já sentado a espera do próximo trem, não conseguia parar de lamentar o atraso, repassava mentalmente tudo que lhe acontecera naquela manhã e não entendia porque não estava naquele trem. Chateado pelo impasse ele parou de pensar sobre o verão, o terno, o amanhecer atípico, o corredor de meia idade e se ocupou apenas de frustrações que guardava quanto ao trabalho, quanto ao filho mais velho que não passava de um preguiçoso, quanto à mulher que não o amava como antigamente, quanto carro que estava ficando velho, quanto à estagnação social de sua família, quanto ao vizinho que…

Em um maravilhoso amanhecer de janeiro, extraordinariamente cálido, ele acordou às sete. Como de costume manteve-se até as sete e quinze emaranhado aos lençóis. Sentia-se bem e despreocupado, contudo, seguiu com seu cotidiano, tomou um banho quente, se olhou no espelho e fez sua barba. Deu bom dia a esposa, acordou os filhos para escola e sentou-se à mesa. Comeu a maçã sempre separada para o desjejum, voltou ao quarto, escolheu o seu terno do dia, beijou a esposa, calçou os sapatos e seguiu viajem. É sempre assim, a mesma rotina, os mesmos horários, o mesmo beijo. Ele mora a oito quadras da estação, mas prefere pegar a condução a procurar estacionamento no centro da cidade. Tudo fazia parte de um cálculo preciso. Às oito já estava no trem a caminho do trabalho. Eram exatos vinte minutos até o centro, especialmente nesse dia, esses vinte minutos foram ocupados por pensamentos contestadores. A manhã estava deslumbrante, e ele nunca parava para reparar em coisas tão simples assim, porém tão gratificantes. Mas quando o trem apitou sua parada ele esqueceu das contestações e se ocupou de pensamentos relativos ao trabalho. Desceu a escadaria do ostensivo prédio da estação central de metrô, e com o pensamento distante do que estava acontecendo à sua volta, ao atravessar a avenida que separa a parada de metrô do banco onde ele trabalha, um carro preto desgovernado, que talvez tivesse sido roubado, ou talvez estivesse apenas sendo dirigido por alguém que estava tendo uma manhã ruim...

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