sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Sozinho no quarto
no entanto,
ouve-se de longe o barulho marcado do relógio.
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Para os que acreditam em fantasmas aqui vai o prelúdio de um sonho
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Nada espera por mim!
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Carta para um suicida
Essa noite, antes de dormir eu fiquei sentindo o meu coração bater. Primeiro do lado esquerdo do peito, depois no ombro, depois na barriga, no braço, na perna, nos pés. Meu coração bate no meu corpo inteiro, o tempo todo.
E se eu continuasse, o que faria com esse pulso silencioso que me agride o corpo?
E se eu continuasse, sempre seria isso, eu ia acordar de novo, eu iria dormir de novo. O pulso surdo e mais nada.
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Para quatro amigos solitários

domingo, 11 de julho de 2010
Diálogo
Ele: Sim, eu já estou indo. O instituto médio legal é perto daqui. Preciso só de alguns minutos pra descansar. É que eu andei muito hoje, estou sentindo minhas pernas bambas.
Eu: …
Ele: Parece que algo súbito aconteceu, não sei bem se foi enfarto ou atropelamento. Eu não consigo pensar sobre isso direito. Acho que na verdade estou esperando pra pensar sobre isso depois. Se eu deixar pra pensar depois posso resolver melhor o que tem de prático pra fazer por agora.
Eu: …
Ele: Não havia ninguém lá, ninguém conhecido. Justo hoje. Eu sei que andar rodeado não significa necessariamente não estar só. Mas é que não tinha ninguém lá. Me dá um dos seus cigarros?
Eu: …
Ele: Não, eu não fumo.
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Depois daquele beijo
Hoje me ocorreu que entrei em choque por esse período desde de 23 de Abril. Apenas não respondia mais aos estímulos. Quando se tem uma experiência de vida forte, é preciso tempo pra que as outras coisas retornem ao seu peso real.
Perdi um grande amigo nesse meio tempo, um amigo que morreu pelos pulmões. A morte por asfixia é das mais simbólicas. Morrer sem ar pra respirar é morrer por algo que sempre acontece, mas que nunca nos mata. Não é sempre que se tem ar pra respirar. E cotidianamente nos perdemos coisas, perdemos pessoas. A perda faz parte da rotina, faz parte do estar vivo, mas não há o que notar, é simples, perdemos pelo caminho dia atrás de dia.
Perder um amigo é ver a felicidade enfartando. Nem sempre há saída simples pra acontecimentos simples. Deixar que os céus se acalmem parece ser o mais sensato, mesmo comigo não acreditando em sensatez. Pular do trem em movimento só faz ralar na brita. Estar em choque está compreendido exatamente entre pular e deixar-se acalmar. É como uma pausa na respiração. Só que pausar não mata por asfixia.
domingo, 25 de abril de 2010
Quando o desejo se torna saudade
(sugestão de trilha sonora: - http://www.youtube.com/watch?v=8gLWTtlMwo4&feature=player_embedded
agora sim a música tem tudo a ver... mas sei lá. escuta enquanto lê)
.
.
.
Primeiro os olhares risonhos. Já está decidido, haverá o beijo, é apenas uma questão de segundos. Dez anos que esperam por mais poucos segundos. Uma história de exatos dez anos e poucos segundos. Toda espera é a de Beckett por Godot. Não há fim até que em algum momento o desejo se cumpre e a expectativa acaba.Os olhares risonhos já se acariciam, os olhares já se tocam, já se beijam. A aproximação física é depois do ato. É o começo do fim, a suspensão do vento, é o inacreditável se ocupando de si próprio. O toque dos lábios, ah o toque dos lábios! O toque dos lábios é começo da saudade, é o pior momento, é nele que se descobre o que se esteve perdendo por tanto tempo, o que continuará inalcançável, exceto no preciso recorte do momento beijo. Depois o toque das línguas, maciiiiiiiiiio.E por fim a saudade, outros exatos dez anos e poucos segundos.
.
.
.
sonhei essa noite
sexta-feira, 26 de março de 2010
Conclusão de coisa alguma
Usamos palavras de mais. Por mais que o que se via eram somente os gestos. Falamos, falamos, falamos. Pouco parou pra escutar, não é assim que funciona. Nos pusemos à mostra. Sentamos na vitrine. Expostos. Talvez seria esse o melhor momento para o trabalho dos nossos ouvidos, mas não. Não é permitido. O combinado implícito é justamente o oposto, se ponha às ofertas e fale sem parar, somente assim o acreditam... É a loucura daquilo que não para, do que não pensa. Estar vivo e vivendo é cheio de consequências, as vezes idiotas. Cheio de surdez e de grito… por outro lado. Depois de tanto, fomos vistos. Até mais que isso: fomos apreciados. Aplaudidos. Nos disseram que fomos bravos, que pisamos em terra firme mesmo sem ver que estávamos andando.
Obrigado.
Mas depois do movimento, da fúria, do tumulto, eu apenas me pergunto: pra que tanto?
quinta-feira, 11 de março de 2010
Só mais um segundo
Com o papel todo gotejado de sangue e lágrima eu continuo a carta. Tudo que havia de importante a ser dito está no precede o que estou escrevendo. Agora vou me prender ao desnecessário, ao dispensável. [Talvez se antes, se bem antes o desnecessário tivesse sido escutado, não estaria ele sendo escrito]. Hoje mais cedo eu pus música alta pra chorar e ver se encolhia. Eu lembro como se fosse ontem você me falando “chora muito não se não encolhe, a lágrima que te cai acaba por te faltar”. Talvez se eu fosse bem menor do que sou, se fosse apenas um décimo, então teria também apenas um décimo desse calor vazio que me aperta o peito nesse momento. E por falar em momento, por que a gente deixou passar os nossos momentos? Momento é coisa que só se consegue contar em segundos. que passa rápido demais. Que mesmo quando vivido intensamente não é capturado. Não é manipulado. Nós deixamos os nossos passar. Eles eram bobos demais pra gente. Talvez então, o nosso fim seja contado nesses mesmos segundos perdidos. Ah, meu amor! Ninguém esperava que algo de volume tão pequeno pudesse fazer tamanha diferença nos caminhos escolha. Esse pequenos ensejos de vida eram a nossa cumplicidade. Era nos olhares que éramos irmãos de crime, detentores do segredo. Apesar da aparente desimportância dos nossos quase insignificantes momentos, são eles os que eu sinto que mais vão me amargar.
Faltamos com nós mesmos. Preocupados em sermos maduros, envelhecemos quinze anos em cinco. Deixamos de lado o que era apenas divertido. É da natureza das coisas que agora estejamos sendo penalizados por isso. Uma espécie de justiça divina o nosso martírio. As coisas não mudam assim tão de repente, ainda hoje eu olho pra você e me enxergo humanamente melhor, mas me parece que tudo isso não vale mais. E talvez não valha também sequer mais uma palavra.
Meta-metade
Voltei. Mas vim de vinda passageira. Não sei bem a que deve esse retorno inesperado. Talvez apenas para explicar a minha ausência delongada, que ainda não conheceu o seu final. Tanta coisa aconteceu, tanta. Trechos, palavras, pedaços, retalhos, uma frase que me vinha, que me parecia certa, forte. E ainda assim eu a esquecia, sem utilizá-la em absolutamente nada, sem desenvolvê-la, sem acreditá-la. Certos impulsos criativos não devem ser respeitados. São mais felizes se mortos. Alguns outros apenas não valem o esforço. Mas alguns poucos, que não necessariamente são os maiores ou os mais geniais, poucos mesmo, devem ser escutados, devem ser respondidos, devem ser abraçados. Eles são a vida de um momento. É o que eu gosto de chamar de momentovida. São fortes por sua natureza. Tem em sua essência uma necessidade de continuação, de atenção. São como um coração recém nascido que bate agudo e desesperado em milhões de pontadas por segundo, sem saber se ao final de um pulso haverá o outro. Ou são como um velho coração que não se impõe, mas que bate forte e ganha seu espaço pelo tempo de espera e pela experiência de saber bater. Não há paradoxo que os explique. Estes momentovida são, portanto, incomensuráveis, quase indecritíveis.
Esses impulsos me faltaram. Ainda me faltam. E assim vai se seguindo o meu silêncio, a minha desistência... Aos que já se habituaram à minha constância, desculpa. Aos que ainda se habituarão, desculpa.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
No susto
Que exatamente hoje faz dez ou dose anos que a gente não se vê.
Já nem me lembro mais que você tem rosto.
Meu Deus! Está viva?
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Eu fico aqui pensando...
Passeia entre as coisas e as pessoas
o que tem de mais pesado vai sem pressa,
o que tem de mais suave, se apressa.
Pórem, cá estamos nós dois, vivos
Porque até no caminho do vento tem pedra.
sábado, 9 de janeiro de 2010
Meu vício
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Doce declinio
De bom, nada mais sai.
O que tinha algum proveito,
foi corrompido pelo cansaço,
como a flor é esfacelada pelo vento.
O que antes era refresco agora é veneno.
E por ter, em algum momento sentido tanto calor,
agora estou eu aqui, dilacerado, vazado, entregue e desatento.